quarta-feira, 1 de maio de 2024

Dia do Trabalhador

 

1-Uma das palavras mais bonitas em grego é “eudaimonia”. No coração dessa palavra está o nome “Daimon”, pois “eudaimonia” é : “estar na companhia de um bom Daimon”.  Em português,  “eudaimonia” é traduzida pela palavra  “felicidade”.

Para os gregos, felicidade não é andar sozinho, mesmo que seja em carruagem de ouro; felicidade é andar na companhia de um “bom Daimon”.

Na mitologia, o Daimon não mora no inacessível e aristocrático Olimpo, o Daimon mora onde houver a necessidade de uma travessia, pois ele é a divindade dos caminhos, sobretudo  dos caminhos que precisam ser criados, mesmo que no deserto  ou para escapar de labirintos.

Para os gregos, assim como para nossos povos  indígenas, a felicidade não é propriedade egoica de um indivíduo, a felicidade é agenciamento coletivo: impossível o indivíduo ser feliz se a pólis está triste, tampouco pode o indivíduo ter saúde com a pólis  doente.

“Companhia” vem de “com-pane”. E “pane” é, em português, “pão”. Assim, fazer companhia é  saber “dividir o pão”. Companheiros: “aqueles que dividem o pão”.

Há o pão que alimenta o corpo, como aquele que faltou ao povo e trouxe o sofrimento  da fome. A elitista Maria Antonieta, zombando, disse: “Não têm pão? Que comam brioches!”

Nasceu então no povo a fome por outro pão: o pão da justiça social , pão que  tem por  fermento a arte, a educação e a poesia,  pois poesia também é  pão que alimenta a luta: “Poesia pode ser que seja fazer outro mundo”, ensina Manoel de Barros.

2- No livro “1984”, George Orwell  mostra que  uma das táticas empregadas pelo  poder para se perpetuar (seja o poder fardado , seja o poder do dinheiro) , é apagar certas palavras dos discursos e práticas, para assim tentar apagar também a realidade que tais palavras  designam.

Parece estar acontecendo isso com a palavra “trabalhador”, que o poder do Capital tenta apagar colocando no lugar “colaborador” ,isto é, o “colaborador” como aquele que colabora com o  Capital, este mesmo Capital que solapa os direitos de quem trabalha.  Com isso,  propaga-se  a ideologia de que o outro trabalhador não é um companheiro, mas um “competidor”.

Neste dia  em que se comemora o “Dia do Trabalhador”, todos os filmes do diretor Ken Loach são uma boa dica. Deixo aqui a sugestão de um filme dele, o imperdível “Terra e Liberdade” , cujo título também poderia ser “Os dois pães” .






 

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