A inesgotável obra
“Em busca do tempo perdido” , do escritor e pensador Proust, fala do mais necessário dos
aprendizados, um aprendizado tão necessário quanto difícil.
Não é um
aprendizado a ser feito por crianças a serem educadas , tampouco por adultos que pouco estudaram.
O aprendizado de
que trata a obra deve ser buscado
por alguém que sabe usar as palavras e
se formou aprendendo teorias, mas que se
dá conta que as teorias já conhecidas e sabidas às vezes já não dizem nada,
nada ensinam.
Esse aprendizado
, portanto, não é sobre palavras , ele é um aprendizado sobre o tempo. Mas não
se trata do tempo preso na gaiola
abstrata do relógio , e sim do
tempo concreto : duração intensiva da vida e do mundo.
Enquanto ignorarmos esse aprendizado, perderemos
mais do que o tempo: perderemos a nós mesmos.
O primeiro
aprendizado vem acompanhado da angústia em perceber que o “tempo que se perde”
somente sabemos dele depois que ele passa : o “mesmal” do viver resignado nos
faz perder presentemente o tempo, sem disso nos darmos conta.
O segundo
aprendizado pode vir das relações
afetivas, enquanto projetos em comum de
futuro. Quando esses projetos de futuro comum malogram e não vão em frente,
tornam-se “tempo perdido” que , apesar de passado, ainda pesa no presente. Essa
vivência do “tempo perdido” não se faz
sem decepção e dor. É por isso que o caminho da aprendizagem pode ser , no seu
início, doloroso.
Até que pode
advir um terceiro aprendizado : o do “tempo que se redescobre”. Aqui quem nos
auxilia é uma memória artista e clínica. Essa memória pode nos ensinar que no
passado vivido havia realidades que não vimos, talvez porque nos cegassem o ciúme
, a insegurança ou o desejo de posse. No
seio do tempo perdido a memória não ressentida redescobre lição nova : não
podemos mudar o passado, porém podemos evitar que ele seja um peso para o nosso
presente.
A última etapa
da aprendizagem é o “tempo redescoberto”. Esse tempo é redescoberto aqui e
agora, e não no passado. Ele não é futuro planejado , ele é o amanhã criado a
partir de agora, como antídoto à perda presente do tempo e libertação do tempo que passou .
No sentido bem
amplo da palavra, e dito de maneira simples, o tempo redescoberto é a
descoberta da arte em seu sentido existencial-produtor, enquanto potência
(re)criadora cuja obra a criar é a própria vida, pessoal e coletiva.
O tempo
redescoberto nos ensina que redescobrir o tempo é redescobrir a nós mesmos,
pois no tempo que se perde e no tempo perdido somos nós mesmos que nos
perdemos.
Tempo que se
perde , tempo perdido , tempo que se redescobre e tempo redescoberto : esse é o
caminho do aprendizado cujo mestre é o tempo.
O filósofo Deleuze assim resume a lição mais importante
desse aprendizado: "O aprender vem antes do ensinar.”
Meu caro 4 de maio,
já posso te chamar de amigo?
Creio que já o somos,
e não desde agora.
Não demora chega o
dia 5,
sei que você já precisa ir embora.
Agradeço-lhe como me acordou hoje:
com a mesma novidade de quando nasci,
apesar de já serem muitos os dias de aniversário.
Amo rever-te,
saiba disso, amigo raro.
Espero te ver de novo,
no próximo ano,
logo ao abrir de maio.
Desejo ainda muito te receber,
sei lá ainda por quantos encontros.
Não te peço nada,
nem te faço promessa.
Nunca olho para suas mãos quando chega,
nelas não indago por presentes .
O que gosto é de apertar a mão da gente,
e mais uma linha na palma da minha mão escrever,
sem pressa.
Sou muito grato pelo seu retorno ,
que seja sempre assim o seu chegar: novo.
Contigo aprendo a perdoar
o que passou,
reabrindo no peito o
horizonte que sou.
Já reparou: tudo se enfeita de azul para te ver chegar,
e mesmo o sol
egocêntrico esquece seus dezembros,
para em plácida luz nos aquecer e renovar.
Meu amigo 4 de maio,
sei que te escondes nessa data,
qual máscara a cobrir teu verdadeiro rosto, o tempo.
Não cobro teu retorno,
tudo farei para merecê-lo,
seja qual for minha idade.
Leve minha eterna gratidão a teu pai,
cujo nome é eternidade.
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