No texto “Espinosa
e as três éticas” ( capítulo do livro Crítica e clínica) ,Deleuze distingue modos de existência de modos de vida. Os modos de existência são construídos a partir de fora,
de tal modo que o sentido da vida fica subordinado a um campo de afecções e
suas ideias confusas. É uma vida do primeiro gênero do conhecimento, uma vez
que esse gênero de conhecimento suscita um modo de existência que lhe seja adaptado.
Na verdade, o primeiro gênero não é bem conhecimento, ele é imaginação ( no
sentido de que ele é um mundo que gira em torno das imagens , incluindo a
imagem narcísica de si , a imagem redutora dos outros e a imagem reativa do
mundo).
Já os modos de
vida são construídos a partir da compreensão que vida não é apenas a vida biológica.
Há vários sentidos para a vida, incluindo a vida do pensamento. Construir um
modo de vida não é apenas existir, construir um modo de vida é pensar o existir
e agir para que o nosso existir, incluindo o existir coletivo, seja a expressão de um modo de vida que também seja um modo de pensar, um modo de sentir, um modo de ver, um modo de ouvir, um modo de cuidar e cuidar-se.
Um modo de existência
se explica pelo modo finito em questão e suas afecções/imaginações que lhe
circunscrevem uma “bolha” existencial , já
um modo de vida é sempre expressão , aqui e agora, de um infinito que se expressa
de múltiplas maneira e em infinitas formas de vida, abrindo e horizontando,
para dizer como Manoel de Barros, cada modo de vida que, construindo-se, afirma
a si e ao infinito.
Um modo de vida se
constrói a partir do segundo e do terceiro gêneros de conhecimento, pois o
conhecimento nada é se não for o meio para a construção de um modo de vida potente
, ativo, pensante e senciente.
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