terça-feira, 21 de maio de 2024

Espinosa : modos de existência e modos de vida

 

 

No texto “Espinosa e as três éticas” ( capítulo do livro Crítica e clínica) ,Deleuze distingue modos de existência de modos de vida. Os modos de existência são construídos a partir de fora, de tal modo que o sentido da vida fica subordinado a um campo de afecções e suas ideias confusas. É uma vida do primeiro gênero do conhecimento, uma vez que esse gênero de conhecimento suscita um modo de existência que lhe seja adaptado. Na verdade, o primeiro gênero não é bem conhecimento, ele é imaginação ( no sentido de que ele é um mundo que gira em torno das imagens , incluindo a imagem narcísica de si , a imagem  redutora dos outros e a imagem reativa do mundo).

Já os modos de vida são construídos a partir da compreensão que vida não é apenas a vida biológica. Há vários sentidos para a vida, incluindo a vida do pensamento. Construir um modo de vida não é apenas existir, construir um modo de vida é pensar o existir e agir para que o nosso existir, incluindo o existir coletivo,  seja a expressão de um modo de vida que também seja um modo de pensar, um modo de sentir, um modo de ver, um  modo de ouvir, um modo de cuidar e cuidar-se.

Um modo de existência se explica pelo modo finito em questão e suas afecções/imaginações que lhe circunscrevem uma “bolha” existencial ,  já um modo de vida é sempre expressão , aqui e agora, de um infinito que se expressa de múltiplas maneira e em infinitas formas de vida, abrindo e horizontando, para dizer como Manoel de Barros, cada modo de vida que, construindo-se, afirma a si e ao infinito.  

Um modo de vida se constrói a partir do segundo e do  terceiro gêneros de conhecimento, pois o conhecimento nada é se não for o meio para a construção de um modo de vida potente  , ativo, pensante e senciente.






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