sábado, 3 de fevereiro de 2024

Os achadouros do poeta Manoel de Barros

 

No poema “Achadouros” ,  Manoel de Barros nos fala de uma  sábia  contadora de histórias que ele conheceu quando criança. A sábia  ensinava  haver  “achadouros”  em Corumbá.

No sentido literal,  os “achadouros” eram buracos  que os holandeses cavaram antes de fugirem do Brasil séculos atrás.

Com o  ouro surrupiado do rico subsolo de  nossa ancestral Pindorama,  os holandeses fabricaram  moedas nas quais estamparam a coroa holandesa. Depois eles  esconderam essas moedas de ouro nos tais  buracos abertos no fundo de  quintais, para que não ficassem com elas os  colonizadores da coroa portuguesa, seus rivais.

Durante muito tempo em Corumbá, movidos pelo desejo de encontrar tais tesouros , os homens  escavaram  quintais para ver se ali achavam o ouro rapinado pelos colonizadores.

Mas o poeta compreendeu que a sábia falava também de outros “achadouros”, enquanto espaços a descobrir que guardavam diferentes tesouros.

Seguindo a lição da sábia, o poeta aprendeu a descobrir    “achadouros”  onde estão guardadas riquezas    que não vêm da usurpação  do homem sobre o outro, riquezas  que são , para a vida digna, verdadeiramente  preciosas  : escavando a palavra, o poeta  acha nela sentidos novos não colonizados ; escavando  em si mesmo , o poeta  acha horizontamentos libertários que partilha com os outros.  

Com sua arte que faz pensar, sentir e desperta,  o poeta   “desabre” nossos habituais olhos que o leem  para que em nós achemos, quem sabe,    olhares novos .

E toda essa riqueza   que o poeta acha , e generosamente  partilha conosco,   vem da potência transbordante de vida  que, empoemando-o,  guardou-se  dentro do poeta  como tesouro  , cujo valor não se mede em moeda, capital ou ouro.

 

 

“O que desabre o ser é ver e ver-se.”(Manoel de Barros)

“O homem, em última análise, somente acha nas coisas aquilo que ele mesmo nelas pôs. O ato de achar se intitula ciência; o ato de pôr se chama arte.” (Nietzsche)

“A poesia está na guardada nas palavras, é tudo o que sei.”(Manoel de Barros)

“Filosofar não é redizer o já dito, mas produzir olhos novos.”(Merleau-Ponty)





O tesouro-esmeralda sonoro de Jorge Ben:






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