Segundo Espinosa [1],
um afeto de que padecemos somente pode ser refreado ou anulado por um afeto
contrário que lhe seja mais forte. Como toda ideia que faz a mente padecer tem
seu paralelo em alguma afecção que também faz padecer o corpo , não se refreia
ou anula algum afeto que faz a mente padecer sem refrear ou anular a afecção correspondente
que faz padecer o corpo.
Espinosa quer dizer que não se vence
uma tristeza apenas teorizando sobre ela; não se refreia um ódio somente por
meio intelectuais. Isso porque toda paixão triste, como tristeza e ódio, não
despotencializa apenas a mente: também despotencializa o corpo. O corpo sofre
uma paixão triste quando aquilo que ele faz se explica mais por uma causa
externa do que por ele mesmo, tornando-o de alguma forma servo. E a força de
uma paixão triste pode ser maior e suplantar a força ou potência que o corpo
exerce para se manter na existência. Quando isso acontece, o corpo se mortifica
.
Mas não somos apenas o efeito passivo
das paixões tristes : também somos causa parcial delas. Ou seja, de certo modo
participamos , ainda que parcialmente, daquilo que nos despotencializa. A compreensão desse processo é o grande efeito clínico da ética de Espinosa:
Contudo, mesmo sabendo teoricamente
disso, nada poderemos se não produzirmos em nós um afeto que seja
contrário àquele que nos despotencializa. Não se vence o ódio com o ódio, não
se derrota a tristeza com tristeza, não se suplanta a injustiça com injustiça.
É o amor que pode vencer o ódio, é a
alegria que pode derrotar a tristeza, é a justiça que pode suplantar a injustiça.
Esses afetos ativos têm paralelo com as afecções do corpo, para assim
desapaixoná-lo do ódio, da tristeza e da injustiça, e reapaixoná-lo com paixões
alegres que aumentem seu poder de agir, isto é, de existir.
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