Platão
elaborou uma tipologia com nove tipos
de almas que podem ter os seres humanos
. Tal tipologia era apresentada sob a
forma de uma escala: do ser humano mais
nobre ao mais vil. A nobreza, no caso, não era devido à família ou posses. Mas que nobreza seria essa?
Valendo-se de
alegorias para se expressar ( pois as alegorias servem para tentar dizer o que
não é apenas palavra), Platão dizia que o ser mais nobre é aquele que possui
uma forma especial e rara de asas , asas que permitem elevar, para assim nos
transportar até o lugar onde vivem as Ideias.
Porém, não é a razão a dona dessas asas, a
razão é apenas os “olhos que veem” as Ideias. Sozinha, entregue apenas às suas
teorias e raciocínios, a razão não tem força para nos elevar.
As asas que conduzem às Ideias pertencem a um “Daimon”: Eros, o
Amor ( em grego, “eros” também significa “asas”). Somente consegue chegar bem
perto das Ideias, e ficar face a face com elas, aquele em cujas costas não há
peso e sim asas , como as asas do beija-flor que o põem diante de seu néctar.
Eros é a
força do Afeto transmutador cujas asas têm força para conquistar
proximidade com as Ideias. A alma mais nobre, segundo Platão, é a alma do
pensador. Almas nobres assim usam Cartola, como a do nosso poeta-Angenor.
Mas as asas de
Eros não são como as de Ícaro, cujas asas eram artificiais e colocadas com
engodo: asas que fazem subir apenas para aumentarem o tamanho da queda. As asas
de Eros também não são como as dos
pássaros, pois estes já nascem com asas. As asas de Eros eram como as da
borboleta: asas que nascem de uma
metamorfose.
O segundo ser
na escala é o que busca a justiça; o terceiro é aquele que cuida da saúde do corpo; o quarto é o que
tem engenho e arte... E assim segue Platão descrevendo e enumerando os tipos de
seres humanos.
O penúltimo em
tal escala ( o oitavo, portanto) é aquele que usa as palavras não para ensinar,
mas para iludir e enganar, como os que hoje fabricam “fake news” . Por isso,
quem assim procede está mais perto da vileza do que da nobreza. Segundo Platão,
esse penúltimo na escala é o ardiloso
sofista*. Os sofistas prometem asas,
porém asas artificiais como as de Ícaro.
E o último ser
nessa escala, o homem mais vil, é aquele que possui a alma de tirano. Platão
dizia que devemos manter o tirano longe
da educação dos jovens e mais distante ainda do governo da sociedade. O
tirano recebe também outro nome:
“antifilósofo”.
Todo tirano , ou
antifilósofo, é cego às ideias e cultua
a ignorância e o ódio. O
tirano não tem asas, o tirano é peso soturno que só aceita carregar os acorrentados
à servidão voluntária.
*A visão de Platão sobre os sofistas é redutora ( não é a
visão que tenho ).
Para Nietzsche, as
piores algemas não são feitas de ferro ou aço, as piores algemas são feitas de
algodão: e com elas se atam os servos voluntários.
O poeta-pensador Cartola-Angenor:
Nenhum comentário:
Postar um comentário