sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

"A essência do homem é o Desejo" ( Espinosa)

 

A filosofia tradicional nos habituou a imaginar que nossa essência pode ser definida de forma imutável, eterna, levando em consideração apenas sua forma, tal como na clássica definição aristotélica: “O homem é um animal racional”.

Espinosa subverte radicalmente essa visão[1]. Para ele, nossa essência é o desejo, e o desejo é que aquilo que nos esforçamos por fazer, é aquilo que de fato fazemos, aqui e agora. O desejo não concerne apenas ao corpo, ele diz respeito ao corpo e à mente.

Quando fazemos algo que favorece nossa essência, esta é afirmada : nossa existência, ou poder de agir, é aumentada. Quando, ao contrário, fazemos algo que é contrário à nossa essência, nossa existência e poder de agir são diminuídos ou refreados. Tanto num caso com noutro, é nosso desejo que está implicado. Assim, nossa essência não é definida a não ser quando  é agida, exercida, seja afirmando-a, seja negando-a ( no caso, tendo a nós mesmos como partícipes daquilo que nos refreia , diminui ou boicota, numa espécie de “servidão voluntária”).

Dessa maneira , nossa essência não é uma forma eterna[2] e imutável, ela é uma potência que pode aumentar ou diminuir em seu poder de agir. Quando ela é aumentada, experimentamos   alegria; quando diminuída, padecemos uma tristeza.



[1] Ética, Quarta Parte, da proposição 59 à 61.

[2] Para Espinosa, nossa essência é eterna , mas não pela mesma razão alegada pela tradição . Nossa essência não é eterna por ser pura forma em si, ela é eterna em razão de sua causa imanente : Deus ou a Natureza em sua Infinita Potência. Nosso desejo é a Potência de Deus não enquanto ela é Infinita, e sim enquanto é afetada pela nossa ideia singular existindo em ato. 







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