Quando sentimos amor em relação a um
outro ser, explica Espinosa, também nos esforçamos para que o ser amado igualmente nos ame. E tanto maior será esse esforço para ser amado quanto maior for o amor
que sentimos.
Porém, esse amor pode passar ao ódio,
caso o ser amado não corresponda da mesma forma ao nosso amor. Se o ser amado ama
a um outro, além do ódio também pode nascer o ciúme naquele que é assim frustrado
em seu amor; no caso, ciúme em relação àquele ou àquela que recebe amor de
quem amamos. Ciúme, ressentimento, rancor...também são formas de ódio.
Acontece algo muito diferente com o
amor que Espinosa designa como “Amor Intelectual por Deus”, isto é , pela Natureza.
Quanto mais nos esforçamos para amar Deus, e amá-lo é conhecê-lo, mais nos
esforçamos para que os outros também o amem, conhecendo-o. Enquanto o amor naquele
sentido primeiro deseja a posse exclusiva do objeto
amado, no amor por Deus se deseja que o amado também seja amado por muitos, que
assim se unem nesse amor, um amor inseparável do conhecimento que o acompanha.
No primeiro tipo de amor, o amante
espera ser amado por aquele a quem ama; no amor por Deus, diferentemente, é
Deus que também nos ama mediante o amor que temos por ele, já que somos modos
ou maneiras de ser dele. Ele ama assim a todas as coisas por intermédio de quem
ele ama, e é também a todas as coisas que se ama quando se ama a Deus assim.
O efeito “clínico” dessa forma de
amor é que ele se reflete em todas as outras formas de se viver o amor, tanto o
amor em relação a um outro ser quanto o amor em relação a si ( o amor próprio),
ajudando-nos a evitar que do nosso amor
possa nascer algum tipo de ódio.
Talvez seja por isso que Manoel de
Barros, amando, escreveu: “Poeta é quem diz eu-te-amo a todas as coisas”.
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