Quando olhamos para o céu e seu amplo
espaço, vemos as estrelas como se estivessem num mesmo plano, como se existissem
todas perto. Mas sabemos que as estrelas
distam umas das outras, distâncias imensas há entre elas. Esse ver os distantes no
espaço como se estivessem num mesmo plano é obra da imaginação, ensina
Espinosa. [1]
Acontece o mesmo em relação às coisas
que estão no tempo: tudo o que, no tempo, se encontra em um passado muito afastado,
a imaginação não consegue processar. Então, ela também coloca tudo num mesmo
plano, um plano de achatamento.
Esse colocar num mesmo plano coisas
distantes, tanto no espaço quanto no tempo, nada tem a ver com aquilo que
Manoel de Barros chama de “horizontar-se”, uma vez que horizontar-se é o
inverso de um achatamento. O achatamento espaço-temporal das coisas não cria proximidade com elas, mas afastamento da descoberta-invenção
do sentido que elas são.
Enquanto o plano criado pela
imaginação produz achatamentos, o plano engendrado pelo pensar instaura a máxima abertura, uma abertura de
horizontamentos. Um plano assim é um “plano de imanência", ensina Deleuze
inspirando-se em Espinosa.
O horizontamento não diminui as
distâncias entre as coisas, achatando-as. O horizontamento cria linhas de fuga
para que possamos alcançar as diferentes coisas que distam no tempo e no espaço,
ampliando assim o que conhecemos. O horizontamento descobre
infinitos céus em diferentes espaços, o horizontamento percorre diferentes
durações que ampliam o tempo.
Pois achatar o tempo e o espaço é, na verdade , o efeito de um achatamento de nós mesmos
primeiro . Esse achatamento existencial nada tem a ver com o viver o aqui e
agora, uma vez que viver intensamente o aqui agora é conectá-lo , ampliando-o,
com a virtualidade aberta de outros espaços e de diferentes tempos. E essa
conectividade não se faz sem que nos horizontemos primeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário