sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Nietzsche, Leônidas da Silva, Garrincha e Maradona

 

Nietzsche dizia: “É preciso proteger os fortes dos fracos.”  Em Nietzsche, “forte”  nada tem a ver com músculos ou armas, forte de verdade é  a “potência”, a criatividade, enfim, tudo aquilo que é  afirmação da vida. “Fraco” , ao contrário, é o ressentido, o autoritário, o negador da vida, mesmo que tenha um exército a seu serviço.

Essa frase de Nietzsche  se aplica a várias coisas, inclusive ao futebol . Na bola, o forte é  mais do que mero atleta : o forte-potente também é    o criativo, o artístico, o pensador. O criativo respeita as regras, mas não se limita a elas,  pois ele exerce  uma potência singular  :  sua arte de jogar/pensar.

Por isso , ele também sabe  inventar o improvável que não está previsto na “regra acostumada”,  sem fazer de sua invenção  uma burla ou infração. Quando  Leônidas da Silva inventou a “bicicleta”, o juiz do jogo parou sem saber o que fazer, pois Leônidas “inventou um comportamento” apoiado apenas naquilo que “pode um corpo”, como já ensinava  Espinosa. Quem “inventa comportamento” é poeta, explica  Manoel de Barros. 

Em geral, o craque-criativo-pensador sofre violências e agressões. Do ponto de vista meramente físico, o jogador que entra violentamente no craque, imaginando que assim o vence, só aparentemente o violento-brigão é forte. Do ponto de vista do futebol, porém, o mero violento  é fraco. Forte é o pensador-criador, e é por isso que ele precisa ser protegido. Quando se aplica o cartão amarelo ou vermelho para  proteger o forte-criativo dos fracos-violentos, é porque se quer proteger igualmente o futebol da mera  força bruta.

Talvez tal cuidado pudesse nos inspirar na  política: proteger os fortes (os que têm ideias fortalecedoras das regras democráticas) dos fracos (os que têm apenas a força do dinheiro, da mídia ou da mera violência  que idolatra destruição e armas...).

Baudelaire dizia: “seja sempre poeta, mesmo em prosa”. Sem precisarem ler Baudelaire, Leônidas da Silva, Garrincha e Maradona aprenderam a lição: “sendo um poeta, mesmo com a bola”.

 

(foto: Leônidas e sua bicicleta)





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