A palavra “interpretação” em grego é
“hermenêutica”. No coração dessa palavra
está um nome: Hermes, o deus mensageiro. Assim, hermenêutica é: arte de Hermes.
Mas qual a relação entre Hermes e a prática da interpretação?
Quando Dioniso , o deus das artes, foi
despedaçado pelas Fúrias, divindades do ódio e da vingança, essas imaginaram
que haviam derrotado para todo sempre Dioniso, e assim foram embora o Ódio e
Vingança imaginando que haviam vencido a Arte.
Mas existia uma arte que as Fúrias
ignoravam : a arte de renascer. Isso explica o nome de Dioniso: “aquele que
nasceu duas vezes”. Dioniso sempre pode renascer a partir de sua
parte imortal: o coração.
Sabedor disso, Hermes pegou o coração
de Dioniso e passou a carregá-lo consigo, de tal maneira que o coração , lugar
do Afeto, passou a ser a mensagem
primeira que dá sentido às outras
mensagens feitas de palavras que Hermes carregava para serem lidas e ouvidas.
“2 +2 = 4”, “a capital do Brasil é
Brasília”...coisas assim não são mensagens, são informações que a inteligência
sozinha pode conhecer.
Mas com as mensagens é diferente, a
inteligência sozinha não extrai o sentido delas sem que entre em cena o coração
que cada um tem. Na intepretação das mensagens, também é fator decisivo da
leitura o afeto que cada um cultiva em seu coração .
Se o coração de alguém é generoso e
criativo , interpretará ricamente o sentido de uma mensagem, por mais simples
que ela seja, mesmo que não tenha palavras, tal como interpreta Manoel de
Barros o canto dos passarinhos fazendo deles poesia que muito nos diz e ensina
( ou ainda Van Gogh , que soube interpretar, pintando, a mensagem dos
girassóis...).
Porém se o coração de alguém é mesquinho, vingativo,
autoritário , ressentido... é assim que tal coração lerá as mensagens , não
importando se são mensagens da Bíblia ou da Constituição. Gente com o coração
assim diz achar na Bíblia mensagens que justificam eles acreditarem que um
miliciano pode ser um “Messias”...
E é assim que eles também interpretam
o Artigo 142 da Constituição Brasileira, encontrando nesse Artigo o que o coração autoritário deles quer: que as
forças armadas , reencarnando as antigas Fúrias, venham despedaçar a própria
democracia...
Contaminada por um coração perverso
assim, a inteligência desse tipo de gente tenta fornecer raciocínios a serviço do ódio e da
vingança. Mas quando a inteligência serve a um coração ressentido, seus
raciocínios se tornam apenas sofismas ,
raciocínios mentirosos, que só aos tolos
enganam...
(este livro de Manoel é apenas uma
sugestão de leitura. Manoel diz que o livro nasceu das audições/interpretações
que ele fez dos cantos de um sabiá livre que mora dentro do coração dele)
( a capa é de Martha Barros, filha do poeta)
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