quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

"cavernas", ontem e hoje...

 

Em sua famosa alegoria, Platão compara a uma “caverna”  o mundo no qual vivem os homens alienados, ontem e hoje.

Esses homens não entraram  na caverna para  explorá-la. Ao contrário, eles são explorados dentro dela : nela vivem como   prisioneiros acorrentados.

Eles estão acorrentados de costas para a saída da caverna e de frente para o fundo dela. Como esses homens naturalizaram essa  condição, ignoram que são prisioneiros, não se dando conta que estão acorrentados.

As correntes não são de ferro ou aço, elas são feitas de um material que vem dos próprios homens aprisionados: elas são feitas com  suas passionalidades reativas e opiniões ressentidas . 

Ódio, ressentimento,  preconceito, medo...são exemplos de “paixões tristes”  que , como ensina Espinosa, tornam os homens prisioneiros deles mesmos e partes de um rebanho manipulável.

O mundo da caverna não é totalmente escuro, pois entra nele um pouco da luz que vem de fora.  Por isso, no fundo da caverna se projeta  o reflexo, apenas o pálido reflexo, das coisas reais que existem fora da caverna.

Mas como os acorrentados não sabem que existe um mundo fora da caverna,  aprisionados que estão ao negacionismo, eles imaginam  que o reflexo distorcido  do mundo é o próprio mundo, e assim tomam por real apenas sombras, “fake news”.

Os prisioneiros carregam a caverna não importa onde estejam:  ela é o mundo estreito dos que estão acorrentados a si mesmos  e submetidos aos que os mantêm nessa condição de servos voluntários.

Aprisionados à ignorância, eles não  estão porém   privados de movimentos, desde que seus comportamentos sirvam aos  “donos da caverna” que os manipulam e os usam como arma vingativa-ressentida a serviço da intolerância e violência, físicas e simbólicas.

Na abominável caverna fascista-miliciana, os prisioneiros dela , autointitulando-se “homens de bem”,   estão sempre falando em pátria e Deus;  mas a pátria e Deus deles são apenas sombras no fundo de uma obscura caverna teológico-política.

Os que  se aproveitam dessa  ignorância trevosa Platão  os chama de “espertalhões  da caverna”: eles  posam de governantes  , generais e “líderes espirituais”, quando na verdade são tiranos do corpo e da alma.

Ontem e hoje , os tiranos da caverna odeiam a luz e contra ela fazem sua suja guerra , pois temem o lume  da educação emancipadora.

Pois a razão de ser dessa luz  é fortalecer quem a conhece e se autoconhece a partir dela, adquirindo assim força para agir individual e coletivamente para , lutando pela dignidade e   justiça, pôr os tiranos  da caverna num outro lugar igualmente  em penumbra   e que deve ser o destino  deles : a cela de uma cadeia.

 

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