Em sua famosa alegoria, Platão compara a uma “caverna” o mundo no qual vivem os homens alienados,
ontem e hoje.
Esses homens não entraram
na caverna para explorá-la. Ao
contrário, eles são explorados dentro dela : nela vivem como prisioneiros acorrentados.
Eles estão acorrentados de costas para a saída da caverna e
de frente para o fundo dela. Como esses homens naturalizaram essa condição, ignoram que são prisioneiros, não
se dando conta que estão acorrentados.
As correntes não são de ferro ou aço, elas são feitas de um
material que vem dos próprios homens aprisionados: elas são feitas com suas passionalidades reativas e opiniões
ressentidas .
Ódio, ressentimento,
preconceito, medo...são exemplos de “paixões tristes” que , como ensina Espinosa, tornam os homens
prisioneiros deles mesmos e partes de um rebanho manipulável.
O mundo da caverna não é totalmente escuro, pois entra nele
um pouco da luz que vem de fora. Por
isso, no fundo da caverna se projeta o
reflexo, apenas o pálido reflexo, das coisas reais que existem fora da caverna.
Mas como os acorrentados não sabem que existe um mundo fora
da caverna, aprisionados que estão ao
negacionismo, eles imaginam que o
reflexo distorcido do mundo é o próprio
mundo, e assim tomam por real apenas sombras, “fake news”.
Os prisioneiros carregam a caverna não importa onde
estejam: ela é o mundo estreito dos que
estão acorrentados a si mesmos e
submetidos aos que os mantêm nessa condição de servos voluntários.
Aprisionados à ignorância, eles não estão porém
privados de movimentos, desde que seus comportamentos sirvam aos “donos da caverna” que os manipulam e os usam
como arma vingativa-ressentida a serviço da intolerância e violência, físicas e
simbólicas.
Na abominável caverna fascista-miliciana, os prisioneiros
dela , autointitulando-se “homens de bem”,
estão sempre falando em pátria e Deus;
mas a pátria e Deus deles são apenas sombras no fundo de uma obscura
caverna teológico-política.
Os que se aproveitam
dessa ignorância trevosa Platão os chama de “espertalhões da caverna”: eles posam de governantes , generais e “líderes espirituais”, quando na
verdade são tiranos do corpo e da alma.
Ontem e hoje , os tiranos da caverna odeiam a luz e contra
ela fazem sua suja guerra , pois temem o lume
da educação emancipadora.
Pois a razão de ser dessa luz é fortalecer quem a conhece e se autoconhece
a partir dela, adquirindo assim força para agir individual e coletivamente para
, lutando pela dignidade e justiça, pôr
os tiranos da caverna num outro lugar
igualmente em penumbra e que deve ser o destino deles : a cela de uma cadeia.
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