quarta-feira, 7 de setembro de 2022

a liberdade, segundo Espinosa

 

 Em suas obras políticas, Espinosa critica a ideia de liberdade como “independência”. Para ele, ao contrário, toda liberdade autêntica é sempre a construção e afirmação de algum tipo de relação da qual  dependemos  para sermos livres.

Pois nada é livre vivendo à parte, toda liberdade é uma forma de relação ou agenciamento. Ser livre não é depender de nada, ser livre é depender, antes de tudo , de nós mesmos para sermos livres, uma vez que a primeira das relações fundamentais é a relação consigo mesmo.

Em geral, quem não estabelece consigo mesmo uma relação primeira , vive a cobrar dos outros coisas que , na verdade, dependeria dele mesmo obter ou fazer.

Um povo livre  não é aquele que se coloca à margem do mundo e em guerra com todos. Um povo livre é aquele que mais depende de si mesmo para governar a si mesmo.

Um povo que sabe que depende de si mesmo para construir sua liberdade nunca imagina que sua liberdade dependerá do Mercado, da Religião , do Patrão, da Mídia, do Capital... e muito menos da Casa-grande.

Quem  governa um povo livre é ele mesmo, pois um povo livre é aquele que mais depende de si mesmo para construir sua história.

Um povo livre  não é aquele que imagina  que houve uma data histórica no passado onde ocorreu sua suposta “independência’. Um povo livre é aquele que a cada vez cria a compreensão, aqui e agora, de que depende de si a construção de sua liberdade, para assim afastar milicos aproveitadores que se imaginam “donos da Independência”.

O governo mais favorável à luta do povo não é aquele que se coloca “acima do povo”, como um “pai” ou “padrasto”.

Um governo autoritário teológico-político de pretensos  “ungidos” sempre teme um povo esclarecido e autodeterminado.

O governo mais favorável à liberdade do povo é aquele que,   vindo do próprio povo, age para que o  povo mesmo compreenda que é ele que governa ao escolher os governantes. E que depende antes de tudo dele, do próprio povo em sua heterogeneidade,  escolher quem o auxiliará a depender cada vez mais de si mesmo em sua construção histórica de seu destino.

Um povo que depende cada vez mais de si para ser e construir a si mesmo é um povo que se educa, que cria sua arte, sua memória e seu futuro.

Não existe “Independência do Brasil” como se fosse um fato consumado. O que existe é a necessidade de construção da nossa liberdade coletiva com a compreensão de que depende de nós mesmos construirmos a nossa liberdade, e que isso requer decisão, persistência e coragem.

(foto:"28º Grito dos Excluídos e Excluídas"/ Centro do Rio/ hoje)












Um comentário:

cauepizindim disse...

Pátria, Mátria, Frátria, patriotismo e patriotada.

Pátria é terra.
Sepulcro do pai,
trabalho, sustento,
alimentação.

Mátria é língua:
a fala comum.
É dizer o sentimento
de que cada um
é mais um...
Ser irmã, ser irmão...
vindos de uma mesma matriz.
Mátria não é,
meramente,
meu país.

Frátria, pode ser
o abraço do irmão.
De um braço que vai
buscar sem lamento,
sua pertença no chão.