Gosto muito da palavra “clínica”, bem
como da necessária prática que ela suscita. O sentido originário dessa palavra
tem íntima relação com filosofia , artes, educação e até a mesmo com a política.
Pois clínica não é apenas algo individual, também há a necessidade de uma
clínica coletiva que potencialize a democracia.
Em seu sentido original, “clínica”
significa: “chegar perto, debruçando-se”. Clinicar é se aproximar para se
debruçar sobre o ser que precisa de nossos cuidados ( “debruçar” no sentido de
“envolver com cuidados”).
O bom médico é sempre um clínico, ao
passo que o mau médico mantém o paciente à distância como se fosse um mero objeto.
Nem toda filosofia é clínica. Ela se
torna clínica quando nos auxilia a nos aproximarmos de nós mesmos: toda clínica
cria proximidade.
Criar proximidade não é o mesmo que
diminuir a distância no espaço. O telescópio, por exemplo, diminui a distância
entre nossos olhos e a lua; porém o telescópio , enquanto aparelho inventado
pela técnica, fica entre nossos olhos e a lua, mantendo a lua externa a nossos
olhos.
Mas quando lemos num poema a lua
retratada em versos, a poesia põe a lua
próxima de nós. Porém é uma lua que somente nossos olhos criativos podem
ver, nunca a consegue alcançar um telescópio. Não porque a lua do poema esteja
longe, mas sim em razão de ela estar de nós próxima enquanto possibilidade existencial
nossa.
A lua do poema fica tão de nós
próxima, que experimentamos em nós um devir-lunar que põe amplidão de céu em
nós. A técnica mantém a lua como objeto exterior a nós, mas a poesia põe a lua
em nós como clínico afeto.
Assim como o poderoso telescópio James Webb nos faz ver o nascimento das
galáxias, um potente poeta ou filósofo nos faz ficar próximos daquilo que em
nós ainda é um núcleo incandescente e não formado de um novo ser ainda por
nascer: “Para brilhar e ter luz própria, é preciso ter caos dentro de
si”(Nietzsche).
Quando leio Clarice Lispector sinto
como se ela fosse uma pneumologista que nos ajuda a respirar ar puro vital para não sufocarmos .
Deleuze e Cláudio Ulpiano são oculistas que potencializam nossos olhos a verem
melhor infinitos mundos, tanto os mundos de fora quanto os mundos de dentro.
Manoel de Barros e Fernando Pessoa são cardiologistas que
vitalizam o coração que por todo nosso corpo pulsa.
E Espinosa é o clínico geral. Com ele
aprendi que a melhor maneira de vencermos a doença não é ficando com medo dela ou a
odiando, a melhor maneira de vencermos a doença é amando a saúde, e agir a favor dela com a máxima
potência que pudermos.
É pelo conhecimento que compreendemos
as causas que geram as doenças, auxiliando-nos
assim a vencê-las, pois o conhecimento é a saúde do pensamento.
Para a luz dissipar a treva, basta a luz acender a si mesma.
Um comentário:
“QUE NINGUÉM ENTRE AQUI, EXCETO OS GEOMETRAS”
Dispôs, Deus, do seu tempo infinito.
Terno e eterno é o Tempo; pois
É terno o Amor Divino.
Amor Universal,
Em versos,
Cria o Universo,
Uno,
Em ato universal do seu amor.
Em tamanha,
Enorme explosão de ternura,
Cria a matéria:
Dispersas partículas.
Imbuídas de eterna tendência a se reagrupar
Na ternura do amor universal.
Cada átomo dessa matéria prima,
Prima Matéria,
Busca se reunir,
Se abraçar.
Abraçados uns aos outros,
Atômicos elementos,
Consubstanciam-se em combinações, em relacionamentos
Plurais, moleculares.
Na pluralidade, se organizam, e
Seguem tomando forma, já
À vista, umas das outras.
Organismos.
Cognição.
Inteligência.
Vida.
Inteligência viva, então,
A matéria questiona a Vida.
E, necessita da morte para contrastar a vida;
Para entender os ciclos do Tempo;
Para sentir a ternura
Da energia do amor que reúne
Os diversos
No universo
Plural.
Necessita, a matéria,
Conhecer a separação
Para descobrir que somente há
Parte no Todo,
No Uno,
Amor Universal.
Dispôs assim, Deus,
Do seu tempo infinito ...
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