sexta-feira, 16 de setembro de 2022

o "profeta' e seu "messias"...

 

Segundo Espinosa, o poder teológico-político nada tem a ver com o conhecimento de Deus. Não é exatamente Deus a base desse tipo de poder, e sim os homens que se autointitulam “profetas”  que imaginam saber  o que Deus quer.

Alguns profetas imaginam Deus como  um Rei por vezes  iracundo e ciumento, capaz de se vingar com   pestes, pragas, nuvens de insetos...

Embora existam diferenças entre os profetas, há um traço comum entre eles:   imaginam que Deus quer sobretudo obediência.

 O profeta prega que apenas ele sabe  interpretar o que Deus quer.  Obedecendo ao profeta, obedece-se a Deus ( embora profetas diferentes interpretem de forma diversa o que eles dizem que Deus quer, cada interpretação revelando mais a imaginação e temperamento de cada profeta do que exatamente a essência de Deus...).

O profeta não é um homem do pensamento, não é um  sábio ou  filósofo. Profetas pregam  a não profetas querendo obediência  às suas profecias, e não para despertar novos profetas ;  ao passo que filósofos ensinam  para que cada um que os ouve    descubra  e exerça o filosofar enquanto pensar próprio .  

 Povos que , no lugar  de pensadores, geraram  profetas almejando  poder teológico-político são povos que  tiveram a experiência da escravidão que embrutece e infantiliza a mente, acorrentando-a à credulidade e ao medo.

Ao invés de  prometer  libertar o povo da escravidão  mediante a  conquista da liberdade, o profeta teológico-político faz outro tipo de promessa, uma promessa que substitui, na verdade, uma escravidão por outra: não mais a escravidão sob o jugo do Faraó , porém nova submissão  do povo à “Lei” que o profeta diz ter recebido de Deus. “Lei” que transforma em chefe autocrata do poder de Estado o próprio profeta.

Nem todo profeta é teológico-político. São teológico-políticos aqueles que misturam    religião e política , Deus e o Estado.

O profeta teológico-político  não é um legislador democrata como  Sólon...Portanto, ele não explica a necessidade da lei, apenas  se vale de condicionantes psicoafetivos remanescentes da escravidão para provocar no povo uma servidão  nova, cujo   grilhão é a “Lei Férrea”.

Assim, não é   pregando o amor a Deus que o profeta age, mas ordenando  obediência servil à “Lei” , cuja desobediência traria a ira e vingança de Deus. O Faraó tiranizava o corpo do povo; o profeta teológico-político  serviliza, pela obediência crédula,  a alma.

 Os “profetas” teológico-políticos de hoje pregam espertamente que , para terem “prosperidade”,  “Deus” quer que os  crédulos lhes deem um dízimo polpudo,  façam “ofertas” em ouro  e  votem num fascista , o    “Messias” de suas tenebrosas e delirantes profecias teológico-políticas...

O poder teológico-político explora a  credulidade incauta e fomenta o  ódio que o profeta capitaliza  , infla e direciona, berrando,  contra os que ele estigmatiza como  o “Diabo”.

Segundo Espinosa, o que pregam e fazem esses profetas   é exatamente o oposto do que  ensinou Cristo, que inspirou seus  apóstolos a praticarem  a justiça e o amor, e não o   ódio  reativo-vingativo  insuflado pelo  poder teológico-político.






 Dizem que o orgulho não é um bom sentimento... Porém confesso que tenho orgulho de algo: ter sido demitido pelo profeta-Malafaia .  Ele era um dos donos da faculdade onde eu lecionava filosofia. Eu estava começando na atividade docente, foi difícil à época ficar sem emprego, porém não me vendi. Ele me demitiu não por eu fazer mal meu trabalho .  Ele me demitiu por eu não obedecer à tentativa dele de cercear nossa atividade docente. Ele nutria indisfarçável horror à filosofia e aos filósofos, só tolerando  quem lhe dissesse “amém”. Se esse srº  vivesse na Grécia Clássica, com certeza   ele   seria um daqueles vingativos que condenaram Sócrates a beber a cicuta; se ele vivesse na época de Espinosa, seria talvez aquele que mandou um fanático religioso  ferir Espinosa com um punhal...( aliás, o ato que baniu/excomungou Espinosa ainda não foi revogado pelas autoridades religiosas :Espinosa  é considerado ainda hoje  por eles como  um subversivo  perigoso...) . O profeta-malafaia  aparece ali na foto junto ao seu “Messias”. Cada profeta tem o “Messias” que merece...

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