Segundo Espinosa, o poder
teológico-político nada tem a ver com o conhecimento de Deus. Não é exatamente Deus
a base desse tipo de poder, e sim os homens que se autointitulam “profetas” que imaginam saber o que Deus quer.
Alguns profetas imaginam Deus como um Rei por vezes iracundo e ciumento, capaz de se vingar com pestes,
pragas, nuvens de insetos...
Embora existam diferenças entre os
profetas, há um traço comum entre eles: imaginam que Deus quer sobretudo obediência.
O profeta prega que apenas ele sabe interpretar o que Deus quer. Obedecendo ao profeta, obedece-se a Deus ( embora
profetas diferentes interpretem de forma diversa o que eles dizem que Deus quer,
cada interpretação revelando mais a imaginação e temperamento de cada profeta
do que exatamente a essência de Deus...).
O profeta não é um homem do
pensamento, não é um sábio ou filósofo. Profetas pregam a não profetas querendo obediência às suas profecias, e não para despertar novos
profetas ; ao passo que filósofos ensinam
para que cada um que os ouve descubra e exerça o filosofar enquanto pensar próprio .
Povos que , no lugar de pensadores, geraram profetas almejando poder teológico-político são povos que tiveram a experiência da escravidão que
embrutece e infantiliza a mente, acorrentando-a à credulidade e ao medo.
Ao invés de prometer
libertar o povo da escravidão mediante
a conquista da liberdade, o profeta teológico-político
faz outro tipo de promessa, uma promessa que substitui, na verdade, uma
escravidão por outra: não mais a escravidão sob o jugo do Faraó , porém nova submissão
do povo à “Lei” que o profeta diz ter
recebido de Deus. “Lei” que transforma em chefe autocrata do poder de Estado o
próprio profeta.
Nem todo profeta é teológico-político.
São teológico-políticos aqueles que misturam religião e política , Deus e o Estado.
O profeta teológico-político não é um legislador democrata como Sólon...Portanto, ele não explica a necessidade
da lei, apenas se vale de condicionantes
psicoafetivos remanescentes da escravidão para provocar no povo uma servidão nova, cujo grilhão
é a “Lei Férrea”.
Assim, não é pregando o amor a Deus que o profeta age,
mas ordenando obediência servil à “Lei”
, cuja desobediência traria a ira e vingança de Deus. O Faraó tiranizava o
corpo do povo; o profeta teológico-político serviliza, pela obediência crédula, a alma.
Os “profetas” teológico-políticos de hoje pregam
espertamente que , para terem “prosperidade”, “Deus” quer que os crédulos lhes deem um dízimo polpudo, façam “ofertas” em ouro e votem
num fascista , o “Messias” de suas tenebrosas e delirantes
profecias teológico-políticas...
O poder teológico-político explora a credulidade incauta e fomenta o ódio que o profeta capitaliza , infla e direciona, berrando, contra os que ele estigmatiza como o “Diabo”.
Segundo Espinosa, o que pregam e
fazem esses profetas é exatamente o oposto
do que ensinou Cristo, que inspirou seus
apóstolos a praticarem a justiça e o amor, e não o ódio reativo-vingativo
insuflado pelo poder teológico-político.
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