Esta é uma das frases de que mais
gosto: “Não aprecio seguir ou ser seguido. Para me acompanhar aonde vou, é
preciso aprender a amar andar ao lado.” Ela foi escrita por Nietzsche.
“Acompanhar” nasce da palavra
“companhia”, que vem da palavra latina “companis”:
“dividir o pão”, pois “panis” é “pão”.
Assim, companheiro/companheira é: “aquele/aquela com quem partilhamos o
pão”.
Há dois tipos de pães. Há o pão que
alimenta o corpo. Sem esse pão, vem a indignidade da fome.
Simbolicamente , esse pão que mata a
fome também é o leite, o arroz , o feijão, as frutas, a “picanha” de que fala o
Lula...Mas nunca pode ser esse pão um osso. Deve sempre nos indignar ver um
ser humano ter que fazer de pão um osso.
Como ensina Espinosa, indignação não
é ódio, indignação é afeto político que une os justos a agirem por amor à
justiça.
A elitista Maria Antonieta zombou da fome do povo ao dizer: “O povo não tem pão?
Que comam brioches!”. Não menos inumano , a Maria Antonieta-fascista daqui diz
que não há fome no Brasil , que isso é invenção dos “comunistas”...
A frase antipovo de Maria Antonieta
fez nascer no povo uma fome por outro tipo de pão: a fome pelo pão da justiça, que
levou o povo à ação política que
derrubou seus algozes.
Quando um povo não aceita ser rebanho de casa-grandistas e tiranos,
nasce nele a fome pelo pão da
dignidade e da justiça, pão que tem o
fermento da arte, da educação e da poesia,
pão que alimenta quem se faz companheiro de luta.
A mera obediência anda atrás e segue passivamente,
enquanto os que se creem “donos da Verdade” querem rebanhos que lhes sigam
dizendo “amém”.
Mas andar ao lado é prática de
autonomia : é um aprendizado ao mesmo tempo ético, pedagógico, afetivo e
político.
Anda-se ao lado em razão de um
caminho que se trilha junto, cada um sobre suas próprias pernas. Ninguém anda
ao lado sendo obrigado ou odiando, pois aprender andar ao lado se aprende em
liberdade, amando.
Não o amor no sentido
subjetivo-romântico idealizado, mas o amor em seu sentido originário: “amor”
nasce da reunião da letra “a” com função
privativa ( como em “a-fasia”: “não fala”) mais a abreviação da palavra
“morte”: “mor”. Assim, em seu sentido micro e macrorrevolucionário , amor é : “não
morte”.
Fazer-se companhia na luta pela democracia
é agir de forma concreta, não idealizada, pela não morte da democracia. Pois quem ama nesse sentido libertário age
para não deixar morrer aquilo que ama, sabendo fazer-se companhia aos que travam a mesma
luta.
- Os versos recitados por Bethânia são partes do poema “A defesa do poeta”, da poeta portuguesa Natália Correia:
Um comentário:
Minha cantora favorita desde sempre...adoro, conheci pessoalmente quando ela fez Opinião em Sampa. Numa festa na cada da Rita moreno. Mulher desde então inteligente e grande intérprete.
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