Manoel de Barros ensina que a poesia está no “antesmente verbal”. O
verbal é a palavra ( escrita ou falada). A poesia existe antesmente à palavra.
Mas esse antesmente onde vive o poético
não é como o esboço que um dia morre
quando o pintor termina o quadro. Nunca o antesmente se deixa prender em um atualmente que queira matá-lo .
O antesmente se parece mais com
fonte, embrião e semente, dos quais nascem rios, plantas, gente. O antesmente é
fonte de onde podem nascer novos mundos : mundos subjetivos ou objetivos ,
individuais ou coletivos.
As ideias e palavras são coisas que
alguém atualmente pensa ou fala, porém a poesia , como lugar da
criação do que ainda não foi dito ou pensado, é sempre “pré-coisa” em devir inesgotável.
Essa realidade antesmente verbal só
pode ser experimentada se nós mesmos
nos colocarmos antesmente a nós mesmos, junto à vida e perto de tudo aquilo que
ainda não tem nome: “As coisas sem nome são mais ditas pelas crianças” , diz
Manoel de Barros.
Antes de estar na palavra, o sentido
está nesse antesmente : mais como parte de mundos a criar do que como parte de
livros já escritos. No antesmente onde habita, a poesia não é
texto ou palavra ainda : ela é a própria existência que resiste umbilicada à vida.
“O poeta aprende que o essencial está
fora do pensamento, naquilo que força a pensar.” (Deleuze)
“Ensinar sobre a existência de uma
realidade diferente é despertar no outro a experiência dela.” ( Étienne
Souriau)
( foto: Manoel em seu escritório
poético, rebatizado por ele de “Oficina
de Transfazer Natureza”)
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