O fascista esteve recentemente lá pelas terras do Oriente Médio e ficou
encantado com algumas coisas que viu por
lá, tanto que nem queria voltar, estendendo ao máximo seu turismo de mau gosto bancado com nosso dinheiro público.
Ele adorou o abominável machismo
institucionalizado daquelas sociedades , onde as mulheres são tratadas como
seres inferiores. Ele também se identificou profundamente com as estranhas
monarquias daquelas terras, obscuras ditaduras
do deserto.
O genocida ficou tão encantado com
esses aspectos deploráveis que até sonhou que era sultão. Traidor que é, no sonho ele trocou o tal “Deus Acima de todos ” por Alá e
Maomé.
Dizem que ele quer implantar por aqui
coisa parecida, porém adaptada ao seu
jeito tacanho: um sultanato
teo-miliciano.
Isso me lembra uma história :
Havia uma aldeia onde um sultão resolveu vingar-se das mulheres. Seu
ressentimento era devido ao fato de que nenhuma mulher o amava espontaneamente,
apenas à força. Rico e poderoso , ele conseguia ter tudo, menos amor.
Valendo-se de seu poder,
e querendo se vingar, ele resolveu obrigar
todas as mulheres solteiras da aldeia a se casarem com ele , uma a uma.
Seu plano era, após a lua de mel, tirar
a vida de cada uma. Ele aprisionou as
mulheres em seu castelo . E antes que ele escolhesse uma para ser sua primeira
vítima , tomou a frente de todas e ofereceu-se
uma jovem chamada Sherazade.
Quando o sultão a levou
para o quarto e ordenou que ela fosse
para a cama, Sherazade pediu: “Posso lhe contar uma história?”. E ouviu como
resposta: “uma história a uma hora dessas!? Conte, mas seja rápida...”. Mas
quando Sherazade começou a narrar a história, o sultão ficou tão absorvido que
não reparou o passar do tempo.
Quando já estava
amanhecendo, Sherazade disse: “não consegui terminar a narrativa, posso
recomeçar amanhã?”. “Sim, mas de amanhã
você não passa!” , ameaçou o sultão .
No dia seguinte,
Sherazade prosseguia com a história e
logo a emendava com outra. O sultão não conseguia ficar imune a esse poder que
ele desconhecia: o poder da palavra que cria mundos (o sultão imaginava, ao
contrário, que poderosa é a palavra que ameaça de morte) .
Sherazade tecia suas histórias mais do que com
palavras: ela as tecia com o fio da vida, e a este estendia como linha de fuga, “Fio de Ariadne”. A
narrativa durou uma, duas, dez, cem... mil e uma noites: “inventar aumenta o
mundo”, já dizia Manoel de Barros.
Sherazade simboliza a vida que se
expressa múltipla nas escolas,
museus, teatros, cinemas e livros,
apesar dos sultões de hoje que ameaçam calá-la . Como ensina Manoel de Barros, “poesia
é afloramento de falas.”
( imagem:
“Sherazade”, obra-instalação de Sami Hilal
. Os livros se agenciam num mesmo fluxo de vida que segue em frente , como um rio inaprisionável )
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