sábado, 27 de novembro de 2021

dos sultões, ontem e hoje

 

O fascista  esteve recentemente  lá pelas terras do Oriente Médio e ficou encantado com algumas coisas  que viu por lá, tanto que nem queria voltar, estendendo ao máximo  seu  turismo de mau gosto bancado  com nosso dinheiro público.

Ele adorou o abominável machismo institucionalizado daquelas sociedades , onde as mulheres são tratadas como seres inferiores. Ele também se identificou profundamente com as estranhas monarquias daquelas terras, obscuras  ditaduras   do deserto.

O genocida ficou tão encantado com esses aspectos deploráveis que até sonhou que era sultão. Traidor que é, no  sonho ele  trocou o tal “Deus Acima de todos ” por Alá e Maomé.

Dizem que ele quer implantar por aqui coisa parecida,  porém adaptada ao seu jeito tacanho:  um sultanato teo-miliciano.

Isso me lembra uma história :

Havia uma aldeia onde um sultão  resolveu vingar-se das mulheres. Seu ressentimento era devido ao fato de que nenhuma mulher o amava espontaneamente, apenas à força. Rico e poderoso , ele conseguia ter tudo, menos amor. 

Valendo-se de seu poder, e querendo se vingar, ele resolveu obrigar  todas as mulheres solteiras da aldeia a se casarem com ele , uma a uma. Seu plano era, após a  lua de mel, tirar a vida de cada uma.  Ele aprisionou as mulheres em seu castelo . E antes que ele escolhesse uma para ser sua primeira vítima , tomou a frente de todas e ofereceu-se  uma jovem chamada  Sherazade.

Quando o sultão a levou para o quarto  e ordenou que ela fosse para a cama, Sherazade pediu: “Posso lhe contar uma história?”. E ouviu como resposta: “uma história a uma hora dessas!? Conte, mas seja rápida...”. Mas quando Sherazade começou a narrar a história, o sultão ficou tão absorvido que não reparou o passar do tempo.

Quando já estava amanhecendo, Sherazade disse: “não consegui terminar a narrativa, posso recomeçar amanhã?”.  “Sim, mas de amanhã você não passa!” , ameaçou  o sultão .

No dia seguinte, Sherazade  prosseguia com a história e logo a emendava com outra. O sultão não conseguia ficar imune a esse poder que ele desconhecia: o poder da  palavra  que cria mundos (o sultão imaginava, ao contrário, que poderosa é a palavra que ameaça de morte) . 

Sherazade  tecia suas histórias mais do que com palavras: ela as tecia com o fio da vida, e a este estendia  como linha de fuga, “Fio de Ariadne”. A narrativa durou uma, duas, dez, cem... mil e uma noites: “inventar aumenta o mundo”, já dizia Manoel de Barros.

  Sherazade simboliza a vida que se expressa    múltipla nas escolas, museus, teatros, cinemas e livros,  apesar dos sultões de hoje que ameaçam      calá-la . Como ensina Manoel de Barros, “poesia é afloramento de falas.”

 

( imagem: “Sherazade”, obra-instalação de Sami Hilal  . Os livros se agenciam num mesmo fluxo de vida  que segue em frente , como um  rio inaprisionável )

 



 



Nenhum comentário: