domingo, 28 de novembro de 2021

a educação e seu tempo

 

Esta ideia está esboçada no filósofo e poeta Emerson ( que aqui interpreto): a educação autêntica, aquela que realmente muda as vidas individualmente  e prepara um futuro  social digno, essa educação emancipadora tem que começar sempre o mais cedo possível. Mas qual é esse “mais cedo”?

Em relação ao adulto, o jovem está nesse tempo mais cedo, pois o jovem  vem antes do adulto. Mas a criança vem antes do jovem, pois ela  vive num tempo ainda mais cedo. 

O que caracteriza o “mais cedo” é que ele é um tempo cujo sentido é a abertura ao futuro. Assim, a criança é pura abertura ao futuro, mais do que o jovem. Por isso, a criança é pura potencialidade, assim como a semente da qual virá o fruto.

Segundo Emerson, porém, existe ainda uma realidade anterior à criança, um “mais cedo” ainda mais cedo. E é nesse tempo mais cedo de todos que a educação libertária precisa começar.

Mas Emerson não está se referindo à vida no interior do útero, pois o tempo mais cedo fundamental vem antes até mesmo  dessa existência uterina.

Contudo, esse tempo mais cedo originário  não é uma vida anterior no sentido de outras vidas vividas num além religioso ou metafísico. Pois esse “mais  cedo” referido pelo filósofo é a realidade social. A sociedade é anterior ao indivíduo, e é portanto nela que é preciso começar a educação.

 Nesse sentido, a educação é a mais elevada, potente e necessária das práticas políticas e éticas, pois  educar não é apenas  tornar o indivíduo um empreendedor-consumidor econômico, tampouco um mero soldado  da "Ordem" estabelecida, e sim um agente-cidadão transformador de sua realidade social e política.

No adulto, o jovem que ele foi ainda está dentro dele e o influencia . E o jovem, por sua vez,  ainda traz dentro de si a criança que também o influencia ( como mostra a psicanálise).

Se a criança sofreu traumas , estes ainda persistirão , como sintoma, no comportamento do jovem. Contudo, o jovem pode procurar ajuda,  tomar consciência, agir sobre si e superar esses traumas do passado que limitam sua vida presente.

A sociedade vem antes da criança, imprime-se nela  e influencia seu  ser futuro.  Uma sociedade injusta, desigual, autoritária e individualista imprime traumas na criança que ela sozinha não tem como vencer. Traumas que roubam seu futuro, como o trauma da violência  e da miséria, tanto as misérias e violências  materiais como  as simbólicas.

Assim, a educação autêntica precisa começar nessa realidade social “ o mais cedo possível”, inclusive detectar seus efeitos limitadores na criança, pois a realidade social influencia decisivamente   o desenvolvimento psicológico, afetivo, social e  cognitivo da criança.

É preciso agir nesse “mais cedo” para  que não seja “tarde demais” a construção de um futuro digno.




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