Esta ideia está esboçada no filósofo
e poeta Emerson ( que aqui interpreto): a educação autêntica, aquela que
realmente muda as vidas individualmente
e prepara um futuro social digno,
essa educação emancipadora tem que começar sempre o mais cedo possível. Mas
qual é esse “mais cedo”?
Em relação ao adulto, o jovem está
nesse tempo mais cedo, pois o jovem vem
antes do adulto. Mas a criança vem antes do jovem, pois ela vive num tempo ainda mais cedo.
O que caracteriza o “mais cedo” é que
ele é um tempo cujo sentido é a abertura ao futuro. Assim, a criança é pura
abertura ao futuro, mais do que o jovem. Por isso, a criança é pura potencialidade,
assim como a semente da qual virá o fruto.
Segundo Emerson, porém, existe ainda
uma realidade anterior à criança, um “mais cedo” ainda mais cedo. E é nesse
tempo mais cedo de todos que a educação libertária precisa começar.
Mas Emerson não está se referindo à
vida no interior do útero, pois o tempo mais cedo fundamental vem antes até
mesmo dessa existência uterina.
Contudo, esse tempo mais cedo
originário não é uma vida anterior no
sentido de outras vidas vividas num além religioso ou metafísico. Pois esse
“mais cedo” referido pelo filósofo é a
realidade social. A sociedade é anterior ao indivíduo, e é portanto nela que é
preciso começar a educação.
Nesse sentido, a educação é a mais elevada,
potente e necessária das práticas políticas e éticas, pois educar não é apenas tornar o indivíduo um empreendedor-consumidor
econômico, tampouco um mero soldado da
"Ordem" estabelecida, e sim um agente-cidadão transformador de sua
realidade social e política.
No adulto, o jovem que ele foi ainda
está dentro dele e o influencia . E o jovem, por sua vez, ainda traz dentro de si a criança que também
o influencia ( como mostra a psicanálise).
Se a criança sofreu traumas , estes
ainda persistirão , como sintoma, no comportamento do jovem. Contudo, o jovem
pode procurar ajuda, tomar consciência,
agir sobre si e superar esses traumas do passado que limitam sua vida presente.
A sociedade vem antes da criança,
imprime-se nela e influencia seu ser futuro.
Uma sociedade injusta, desigual, autoritária e individualista imprime
traumas na criança que ela sozinha não tem como vencer. Traumas que roubam seu
futuro, como o trauma da violência e da
miséria, tanto as misérias e violências
materiais como as simbólicas.
Assim, a educação autêntica precisa
começar nessa realidade social “ o mais cedo possível”, inclusive detectar seus
efeitos limitadores na criança, pois a realidade social influencia
decisivamente o desenvolvimento
psicológico, afetivo, social e cognitivo
da criança.
É preciso agir nesse “mais cedo”
para que não seja “tarde demais” a
construção de um futuro digno.
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