Nise da Silveira dizia que nossa saúde mental , ou a falta
dela, depende mais do que fazemos com
nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente .
Esse pensamento de Nise me lembra
Espinosa . Depois de filosofar sobre o Infinito empregando a potência de sua
mente, Espinosa sentia a necessidade de
empregar suas mãos para polir
cuidadosamente lentes, como um simples
artesão. Vinha gente de longe para comprar as lentes,
tal a qualidade delas. Mas Espinosa vendia somente o necessário para sua
sobrevivência: suas mãos eram felizes em polir, não em contar dinheiro.
Creio que isso também explica a
famosa frase de Espinosa: “Ninguém sabe tudo o que pode um corpo.” Não apenas o corpo cuja
uma das partes é a mão, pois o corpo de que fala Espinosa tem um sentido amplo
e variado.
Por exemplo, o corpo do palavra.
Ninguém sabe tudo o que pode o corpo da palavra antes de ela ser empregada como
veículo de expressão educadora-libertária.
Ninguém sabe tudo o que pode o corpo
social quando se agencia , democrática e coletivamente, para não se deixar
dominar por tiranias.
Ninguém sabe tudo o que pode um
corpo, seja ele qual for, até alguém ousar
criar realidade nova empregando esse poder, essa potência.
Ninguém sabe tudo o que pode um fio,
um simples fio aprisionado em um tecido, na forma acostumada de uma roupa, de
um uniforme. É mais fácil descobrir tudo o que pode o corpo de um fio aquele
que não veste uniformes e tem a alma
nua, às vezes ao preço da dor, como Arthur
Bispo do Rosário.
Desfazendo a forma das roupas e
uniformes com os quais o poder excludente o vestia, Bispo do Rosário desconstruiu essas fôrmas , fôrmas físicas e simbólicas,
até (re) descobrir o fio livre que ali estava preso.
Com sua mão sendo o instrumento para
libertar criativamente sua mente, Bispo
do Rosário reinventou um Fio de Ariadne para
bordar sua linha de fuga: e por esse fio , Fio do Afeto, nossa mente também se liberta e sara.
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Em comemoração ao relançamento do livro
de Nise sobre Espinosa, haverá este evento do qual participarei. Segue a
programação ( as falas acontecerão sempre às 20h):
25 de outubro – Apresentação - Histórias dos
caminhos de
Nise a Spinoza / Luiz Carlos Mello e Euripedes C Junior
9 de novembro – Carta I / Maddi Damião Junior
23 de novembro – Carta II / Elton Luiz Leite de Souza
7 de dezembro - Carta III / Walter Mello
Texto de apresentação do evento elaborado pelos organizadores :"O recente lançamento da 3a edição de Cartas a Spinoza e a emoção que sua leitura desperta, inspirou-nos a compartilhar com os frequentadores do Grupo de Estudos as preciosas reflexões de Nise sobre os ensinamentos do grande filósofo. A experiência transformadora provocada pelo encontro de Nise com Spinoza foi a base filosófica e afetiva onde ela alicerçou o trabalho revolucionário de toda a sua existência.”
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