Mesmal: o mesmal é uma vida, pessoal ou coletiva, que se acostumou com aquilo que a impede de ser diferente. O mesmal é a antipoesia.
Velhez: a velhez não é a velhice, a velhez não é uma idade. A velhez é o mesmal com outro nome. A velhez pode acometer a uma pessoa ou a parte da sociedade, que então se torna mesmal-conservadora-reacionária.
Ignorãça : Espinosa dizia que “ninguém sabe tudo o que pode um corpo”. Esse não saber não é a ignorância negacionista , e sim uma forma de pensar criativo que Manoel pôs em prática escrevendo com o corpo. A ignorãça é potência corpórea que cria saber novo.
Empoemar: o empoemar-se não é apenas ler versos. Empoemar-se é viver intensamente uma ideia libertária, até que ela esteja em cada ação nossa, por mais simples que seja , não importa onde ou diante de quem.
Desabrir: o desabrir-se é mais do que o mero abrir-se ; desabrir-se é desfazer os limites do ego, até fazer comunhão com a natureza, a mesma de que fala Espinosa.
Agroval: o agroval é uma multiplicidade heterogênea onde se agenciam singularidades livres, como um Quilombo onde se resiste e luta pela liberdade.
Horizontamento: horizontar-se é conectar-se em todas as direções, em todos os sentidos, desfazendo fronteiras, cercas, nãos.
Criançamento: o criançamento não é voltar à infância de forma infantil; o criançamento é o antídoto à velhez . Criançar a linguagem é dizer com ela algo que nunca foi dito, ou dizer diferente o já muito dito, assim reinventando o sentido e subvertendo as cartilhas.
Agramaticalidade: a agramaticalidade não é errar nas regras da gramática; a agramaticalidade é produzir um dizer que , de tão potente , reinventa outras gramáticas. A gramática é poder, a agramaticalidade é potência.
Delírio ôntico: Manoel diz que “poesia é delírio ôntico”. A palavra “delírio” vem de “lira” , o instrumento musical do poeta Orfeu. “Lira” também é o nome dos sulcos feitos na terra para plantar as sementes. "De-lirar” é : “lançar a semente fora dos sulcos”. Mas há dois sentidos de delírio: o poético e o sombrio, o da saúde do espírito e o da mente doentia. O delírio mórbido lança a semente fora do sulco , e assim a nega e destrói; já o delírio ôntico lança a semente fora dos sulcos costumeiros, porém cria sulco novo para a semente ser plantada e dela germinar ideia nova. “Ôntico” vem de “on” : “ser”, em grego. Delírio ôntico é criar novos sentidos para o ser, ao passo que o delírio mórbido é mera fantasia doentia de poder.
Natência: a natência é a perseverança da vida em renascer ainda mais viva onde a querem derrotada e morta.
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