quinta-feira, 18 de novembro de 2021

afetos e virtudes em Espinosa

 

Segundo Espinosa, nós só conseguimos vencer alguma coisa que , de fora, tenta nos diminuir e apequenar se dentro de nós já houver algo que nos engrandece.

Para Espinosa , o amparo interno para nos  fortalecer tem um nome: virtude.

A virtude é a força criativa e  ativa que nasce do desejo: a virtude é o afeto em ação. A virtude não é apenas o afeto que se sente, ela é o afeto que ganha braços e pernas para pôr-se em ação.

A virtude não é uma força que surge e logo depois desiste e desaparece. Pois quanto mais potente é a virtude, mais ela é perseverante.

Perseverar não é esperar que venha até nós o que desejamos, perseverar é o exercício de caminhar sobre as pernas do desejo que se faz ação e segue em frente. “O andarilho abastece de pernas as distâncias”, ensina Manoel de Barros , nisso poetizando as lições de Espinosa.

Espinosa se difere muito da maneira tradicional de se falar do tema das virtudes. Essa palavra vem de “virtu”, que significa “força”, porém não qualquer força.

Virtu é a força potencial, é a força da potência criativa. Por exemplo, quando se quer lançar uma flecha, é preciso tensionar a corda do arco. Quando se deseja produzir música com o violão, é necessário tensionar as cordas do violão. E mesmo nosso coração só consegue impulsionar o sangue que o atravessa porque suas fibras são tensas.

Originalmente, “virtu” era o nome que se dava a essa força intensa que nasce de uma fibra. Daí vem a expressão popular: “nada somos ou fazemos, se não tivermos fibra.”

 “In-tenso”: “ir para dentro da tensão”. Assim, ser intenso não é ser nervoso ou agitado. O monge meditando vive uma intensidade, embora não esteja se agitando. Há silêncios intensos. Dessa maneira , a virtude é uma intensidade capaz de  lançar ao horizonte aberto nossas ações e palavras como flechas.

As virtudes são intensidades que aumentam a potência de pensar da mente e a potência de agir do corpo, pois a virtude é o desejo intensificado de vida. A virtude, enfim, é a potência prática e ética que enfrenta as tiranias.

Amor, amizade, alegria, indignação, coragem...são afetos. Mas esses afetos só se transformam em ação concreta sobre o mundo se , entrando no coração do nosso desejo, converterem-se também em virtudes, isto é,  em força que age.




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