Segundo Espinosa, nós só conseguimos
vencer alguma coisa que , de fora, tenta nos diminuir e apequenar se dentro de
nós já houver algo que nos engrandece.
Para Espinosa , o amparo interno para
nos fortalecer tem um nome: virtude.
A virtude é a força criativa e ativa que nasce do desejo: a virtude é o
afeto em ação. A virtude não é apenas o afeto que se sente, ela é o afeto que
ganha braços e pernas para pôr-se em ação.
A virtude não é uma força que surge e
logo depois desiste e desaparece. Pois quanto mais potente é a virtude, mais
ela é perseverante.
Perseverar não é esperar que venha
até nós o que desejamos, perseverar é o exercício de caminhar sobre as pernas
do desejo que se faz ação e segue em frente. “O andarilho abastece de pernas as
distâncias”, ensina Manoel de Barros , nisso poetizando as lições de Espinosa.
Espinosa se difere muito da maneira
tradicional de se falar do tema das virtudes. Essa palavra vem de “virtu”, que
significa “força”, porém não qualquer força.
Virtu é a força potencial, é a força
da potência criativa. Por exemplo, quando se quer lançar uma flecha, é preciso
tensionar a corda do arco. Quando se deseja produzir música com o violão, é
necessário tensionar as cordas do violão. E mesmo nosso coração só consegue
impulsionar o sangue que o atravessa porque suas fibras são tensas.
Originalmente, “virtu” era o nome que
se dava a essa força intensa que nasce de uma fibra. Daí vem a expressão
popular: “nada somos ou fazemos, se não tivermos fibra.”
“In-tenso”: “ir para dentro da tensão”. Assim,
ser intenso não é ser nervoso ou agitado. O monge meditando vive uma
intensidade, embora não esteja se agitando. Há silêncios intensos. Dessa
maneira , a virtude é uma intensidade capaz de
lançar ao horizonte aberto nossas ações e palavras como flechas.
As virtudes são intensidades que
aumentam a potência de pensar da mente e a potência de agir do corpo, pois a
virtude é o desejo intensificado de vida. A virtude, enfim, é a potência
prática e ética que enfrenta as tiranias.
Amor, amizade, alegria, indignação,
coragem...são afetos. Mas esses afetos só se transformam em ação concreta sobre
o mundo se , entrando no coração do nosso desejo, converterem-se também em
virtudes, isto é, em força que age.
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