Há árvores que são mais do que
árvores: elas também podem ser para
nós símbolos, inspirações, ideias. Por exemplo , o ipê. A flor do ipê é uma das poucas que
floresce colorida durante todo o ano, resistindo até mesmo ao cinza do inverno.
A flor do ipê assim nos mostra que é possível ser forte e resistente sem perder
a arte de criar beleza. Antes de os colonizadores aqui chegarem, os índios
acreditavam que o ipê era a própria expressão da força fértil de Pindorama,
nossa Terra-Mãe ancestral . Na mitologia tupi-guarani, um dos sentidos de
Pindorama é: “terra onde os maus são vencidos”. As flores do ipê são sempre de
cores múltiplas, combinando o púrpura, o rosa, o branco e o amarelo . Os
colonizadores tentaram acabar com o ipê, porém não conseguiram. Então,
descobriram que podiam ganhar dinheiro sangrando uma árvore chamada pau-brasil,
cuja resina avermelhada corre no tronco da árvore como em nossas veias o
sangue. Foi a partir do comércio dessa resina cor de sangue que a terra explorada
ganhou novo nome, sendo então chamada de "Brasil" pelos seus algozes.
Essa mentalidade predadora hoje
novamente se volta contra o ipê,
derrubando ilegal e criminosamente sua madeira, quase sempre sequestrada de terras indígenas. Por trás desse crime
contra o ipê existe algo ainda mais sombrio:
também move essa gente um ódio
niilista contra as cores , a natureza, a multiplicidade e arte que o ipê simboliza
como imagem que nos liga aos nossos
ancestrais povos da floresta.
Por debaixo do culto fascista e
pseudonacionalista ao verde e amarelo existe ainda a mesma mentalidade
criminosa que sangrou e ainda sangra nossa Terra-Mãe, mátria ancestral. Nunca
haverá independência enquanto os maus continuarem sangrando nossa vida e
dignidade. Simbolicamente, devemos aprender com a autêntica independência
perseverante dos ipês de Pindorama, que resistem aos seus carrascos , de ontem
e de hoje, florescendo como vivas
bandeiras pintadas pela própria natureza em púrpura, rosa, branco e amarelo.
(fiz esta postagem há tempos...Hoje
vi um ipê que me fez lembrar da história)
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