quarta-feira, 17 de março de 2021

albatrozes

 

No poema “O albatroz”, o poeta Baudelaire nos explica o  motivo de o albatroz ser o pássaro de maiores asas: é porque ele aceita o desafio do oceano. “Venha voar sobre mim se tiver coragem!”, assim é o desafio do oceano . A maioria dos pássaros voa apenas de ilha em ilha, perto do litoral conhecido, muito longe não se aventurando. Mas o albatroz criou imensas asas porque ele ouviu e aceitou o desafio .  Quem voa sobre  oceanos se desterritorializa e corre riscos,  nunca sabendo se vai achar onde pousar. Voar assim só voa quem confia em suas asas. O albatroz é capaz de ficar uma semana voando sem parar ! Quando tem sede , ele atravessa  as nuvens e bebe a água diretamente sob a forma de gotículas, antes de elas caírem como chuva e se tornarem o próprio oceano . O albatroz também inventou outra arte em sua travessia: enquanto voa, metade de seu cérebro dorme, fechando um dos olhos,  enquanto a outra metade fica de vigília , mantendo o outro olho aberto . Um olho sonha, o outro ao horizonte mira. Porém se engana quem pensa que é apenas  o olho aberto que guia o albatroz: pois quando nuvens negras barram sua visão, é com o olho que sonha que o albatroz avança em sua linha de fuga . Às vezes, no meio do oceano,  o albatroz vê abaixo de si um navio, ele então desce e pousa para descansar um pouco. O albatroz tenta fechar e guardar suas asas, porém  elas são maiores do que ele: hábeis para voos no céu, elas atrapalham o andar no rasteiro chão. Resultado: no chão o albatroz anda desajeitado, o que faz a marujada rir zombeteiramente. Quando enfim descansa, o albatroz novamente abre as asas e faz do vento uma escada para subir até ao altar azul onde novamente será coroado Príncipe dos Ares. Vendo o albatroz se elevar, a marujada cala o riso e algo neles se eleva também. Mas o capitão do navio , destilando ódio  ,  xinga coisas que traduzidas para o  mundo de hoje seriam mais ou menos assim  : “esse pássaro maldito deve ser comunista ou anarquista! Veio aqui perturbar a Ordem e o Progresso dos homens de bem!”, grita o capitão do navio cuja bandeira tremulava com uma sinistra caveira da morte pintada.  Tentando  se vingar do albatroz , o capitão-paranoico  atira   flechas e balas de canhão contra o pássaro-libertário. Porém  o albatroz voa tão alto e potentemente, que não o alcançam flechas, canhões e nem a opinião de ódio  dos que veem nos seres livres uma ameaça  . E quando vê a tempestade adiante , o albatroz a atravessa pelo meio e segue em frente.

 

“Poesia é voar fora da asa”. (Manoel de Barros)

 

(imagem: “Albatroz”/ Graça Craidy)







- e hoje, 17/03, é o dia de nascimento da grande albatroz Elis:



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