Conforme argumenta Espinosa em seus
livros sobre política, um dos maiores inimigos da democracia é o poder
teológico-político. O que caracteriza o teológico é que ele se apoia em um
livro que considera sagrado: o Alcorão, para os muçulmanos; o Talmud, para os
judeus; a Bíblia, para os cristãos. O que fundamenta um Estado livre, ao
contrário, é que seu poder emana de uma Constituição laica livremente
instituída , podendo ser emendada ou substituída por outra mediante uma
assembleia constituinte, obra humana, fato este que não pode acontecer com o
Texto que fundamenta a teologia. O poder democrático nunca é teológico, porém o
poder teológico, saindo de sua esfera própria, pode ambicionar ser político,
mas nunca será democrático. Ao contrário, o poder teológico-político verá na
democracia um inimigo a ser destruído em nome de Deus. Mas qual Deus? De qual
religião? E aqui está o que revela a impossibilidade de um poder
teológico-político se manter a não ser com a força ( não a de Deus, mas a das
armas bem humanas, demasiado humanas...). Na democracia, a Constituição é um
texto que todos seguem , mesmo os que pensam diferente, como liberais e
socialistas. Mas judeus, cristãos e muçulmanos seguem livros sagrados
diferentes que lhes conferem uma identidade religiosa incomunicável com a
religião diferente da sua . Então, quando um poder teológico quer se tornar
também poder teológico-político, ele quer na verdade não apenas desfazer a
essência da política, que é pautar-se em uma Constituição livremente instituída
que preserva a diversidade, como também afirmar-se como religião única. Assim, quando o poder
teológico, saindo da esfera que lhe é própria ( a esfera subjetiva-privada) , quer se tornar também poder político , correm
risco não apenas a democracia e os partidos, como também as outras religiões
que, mais cedo ou mais tarde, também serão perseguidas . O poder
teológico-político , quando alcança o poder, traz para este certos dogmas
inspirados em “gurus” ou “iluminados” que se creem governados diretamente por
algum Deus abstrato, vingador, um Deus cheio de ódio, nunca o Deus do amor (
como aquele que São Francisco dançou...). Além disso, tal poder exigirá a força
bélica de polícias e exércitos a serviço de seu delírio, pois um dos traços do
poder teológico-político é a paranoia: eles se acham “eleitos” e, ao mesmo tempo,
perseguidos. São ideias delirantes e paranoicas assim que movem o governo
Bolsonaro e sua “política externa” de alinhamento automático com o terrorismo
de Estado de Trump.
Nenhum comentário:
Postar um comentário