quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

a desobediência necessária


A servidão involuntária é aquela na qual um tirano impõe à força sua vontade a alguém ou a um povo , cuja liberdade é assim roubada. Acontece algo diferente com a servidão voluntária: ela não é a liberdade roubada, ela é a liberdade alienada . A servidão voluntária tem várias formas e maneiras de acontecer. Ela ocorre quando alguém se submete a um tirano por livre vontade , porém com a expectativa de também poder ser tirano e exercer poder autoritário sobre a vida dos outros. Muitas coisas podem servir de tirano para os que têm pendão para a servidão voluntária, mas nada faz hoje tantos servos quanto o cassino financeiro e seus juros, o protofascismo e a ignorância digitalizada. Há ainda os que se dizem “servos de Deus” somente para ter poder político e exercer tirania sobre os outros. O mecanismo psicológico e político da servidão voluntária não é querer ser servo , e sim tirano. Todo tirano imagina que ser forte é encontrar alguém mais servil e medíocre que se ponha de joelho diante de sua opinião, credo ou farda. A tirania é , no fundo, uma fraqueza de ideias, de argumentos, enfim, uma fraqueza de vida que muitas vezes se esconde atrás da violência e da intolerância. Desconfiem sempre daqueles que dizem “sou servo da Lei” ou “ sou servo da Verdade” , pois o que estes querem na realidade é ser tiranos de toga ou de dogmas. Além disso , dizer-se servo da Lei ou da Verdade não significa a mesma coisa que ter amor à Justiça ou às ideias, pois amar o que liberta  é  o que dá força e justifica o desobedecer que enfrenta a servidão.

“É servo aquele que não se pertence. É aos escravos, e não aos homens livres, que se dá um prêmio para os recompensar por se terem comportado bem.” (Espinosa)




Espinosa dizia que ninguém é livre apenas pensando teoricamente , sem agir ; tampouco é livre quem imagina que pode  agir livremente sem pensar o que faz. Para Espinosa, quando a gente pensa de forma livre ( isto é, potente) desse pensar nasce necessariamente um agir que não tem por  motor apenas a vontade, mas todo o corpo, incluindo nosso desejo e aquilo que em nós ainda tem força para se indignar. Quem apenas pensa ideias libertárias porém não age a partir delas, na verdade não pensa: apenas imagina que pensa.

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