terça-feira, 12 de março de 2019

manoel e o estilingue


Segundo o poeta Manoel de Barros, há na poesia uma didática. Não uma didática para nos ensinar teorias, isso fica para as academias e seus doutos. A didática que a poesia ensina é uma “didática da invenção”. Ensinar a inventar, essa é a lição de tal didática, sobretudo  para a vida. Manoel diz que aprendeu essa didática não em livros ou cartilhas, ele a aprendeu com um menino:  "inventei um menino levado da breca para me ser”. O poeta inventou um menino para sê-lo: e é o próprio menino inventado que ensina a Manoel como inventar-se.    Esse menino, diz o poeta, é “a criança que me escreve”.   Essa criança não é uma idade da vida, mas a própria potência da vida em seu “minadouro” e novidade. Para que não nos domine a “velhez” , o poeta nos convida para os  seus “exercícios de ser  criança”. “Velhez”  não é uma idade, “velhez” é uma forma de mentalidade e poder   que quer impor a todos o seu “mesmal”.   Os exercícios de ser criança consistem em  dar cambalhota,  apertar a companhia e sair correndo , atirar com estilingue nas latas, brincar de pique, jogar bola na rua , mesmo que a isso proíba o guarda... Os exercícios são  as “peraltagens” de que são capazes as crianças. É preciso aprender  a fazer essas peraltagens  com as palavras , de tal modo a fazer a gramática dar cambalhota , bem como  driblar com o sentido insubmisso as significações dominantes e  seus guardas.   Inventar com   as palavras uma    lúdica arma, um simbólico estilingue, apontado contra a velhez  reaça.

“O homem seria metafisicamente grande se a criança fosse seu mestre. ” (Kierkegaard)






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