A ideia de que o Brasil é um país “em
desenvolvimento” é sempre colocada em oposição a duas outras espécies de
países: os já desenvolvidos e os subdesenvolvidos. O Brasil estaria no meio,
como se o mundo fosse uma fila : quem está no meio dela , como nós, deve olhar mais para frente, seguir o “líder”,
e não olhar muito para quem está atrás, mesmo que sejam nossos irmãos. Essa visão nasceu da “ideologia do
progresso”. Essa ideologia vende a ilusão de que se seguirmos o líder um dia
chegaremos aonde ele está. Mas será que
os países que são hoje desenvolvidos um dia foram subdesenvolvidos? O que caracteriza
os países subdesenvolvidos é que eles foram objeto de exploração colonialista,
incluindo a escravidão. A maioria dos
países desenvolvidos foram aqueles que exploraram, como colônia, os que hoje são subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento. Os EUA foram colônia no passado, mas os explorados eram
sobretudo os negros que lá viviam. Hoje, Trump e seus apoiadores vendem a ideologia de que os que estão atrás na fila, se se comportarem bem, um dia
estarão mais perto deles. A visão de que
a história das sociedades é uma fila aliena os povos da América Latina de se
verem lado a lado. Devemos suspeitar da
história e seu ideologizado progresso e redescobrir a geografia. A geografia
nos põe diante do plano horizontal de nossas vizinhanças. Os países desenvolvidos
não são nosso futuro, na verdade alguns deles são aqueles que nos roubam a
possibilidade de um futuro, o nosso e o
de nossa vizinhança. A geopolítica nos
faz ver, inclusive, que o tal líder da fila colocou um muro farpado em suas
fronteiras para manter seus vizinhos
pobres à distância... A geopolítica nos mostra que a ideologia do progresso escamoteia
um presente predador que ameaça o futuro do próprio planeta terra . A ideologia do progresso muitas vezes
esconde uma mentalidade medieval ressuscitada
. No caso do governo bozo, nem a imagem da fila serve mais. A imagem mais
correta talvez seja a do servil lacaio seguindo seu dono.
Sobre uma geofilosofia inspirada em Deleuze , tive o prazer de participar deste livro organizado pelo Wenceslao (geógrafo e pensador político do espaço) :
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