quinta-feira, 14 de março de 2019

a arma aponta pra gente


Segundo Espinosa, a pior fase da vida é a infância. Não por algum problema intrínseco a essa fase da vida. A infância é a pior fase porque é nesse estágio da vida que mais sofremos a influência dos adultos que nos cercam, sem termos ainda o discernimento para avaliar criticamente o que certos adultos fazem e cultivam.  Um adulto tem como escolher de quem se aproximar ou afastar, mas a criança não tem como pensar seus encontros.  Ela está à mercê, na mente e no corpo. Se um adulto se aproxima de alguém quando na verdade deveria se afastar, isso é um erro de seu discernimento. Porém  uma criança não tem ainda essa capacidade de avaliar.  “Criança” significa: “aquele que crê”.  A criança é a crença em seu estado puro ,  sem o conhecimento da índole dos adultos que a cercam.  O mau não está nessa propensão a crer e imitar, o mau está no adulto que se vale disso e se apresenta como modelo a imitar. Esse adulto poderá  “entrar” de tal modo na mente  da criança que depois  dará muito trabalho à  boa educação retirar essa má influência, quando ainda dá tempo para retirar...   A criança é “inocente”, isto é, sem a noção do que é veneno ou alimento. Mas um adulto que força uma  criança a imitar um comportamento que simula uma arma apontada genericamente , na verdade é para a sociedade inteira que essa arma estará sendo apontada. Tal adulto parece querer inocular na criança o veneno de que é isto que merece  o outro: uma arma apontada pelo simples fato de ser  outro, diferente. Na sua inocência,  a criança imita. Mas não há nenhuma inocência  no adulto que a força a imitar : a arma que ele faz a mão inocente da criança virar  está apontada pra gente.

( relutei muito em postar essa foto junto com o texto, tão constrangedora ela é. Mas quando agimos movidos pela justa indignação, e não por mero ódio , ao  fazermos uma acusação é preciso mostrar o crime)


obs.:O livro “Werther”, de Goethe, foi proibido por décadas em vários países. Werther é um jovem romântico que escreve cartas de amor  para uma mulher pela qual ele se apaixonou. Era uma mulher casada. Então, ele escreve uma última carta justificando um ato extremo que ele cometeria. Em seu delírio , ele tinha a certeza de que aquela mulher seria de outro apenas naquela vida, mas seria dele em outra vida. Ele comete então o suicídio. As cartas são tão persuasivas que vários jovens em situação semelhante também se matavam. Porém o poder de persuasão do livro era aumentado devido à mentalidade da época: o “Romantismo”. O que quero dizer é que tragédias semelhantes à de Suzano já aconteceram no passado, isso é fato. Mas o gesto do bozo é mais perigoso enquanto mau exemplo às crianças e jovens devido à mentalidade de ódio e belicista que paira sobre nossas cabeças. Seu gesto insano potencializa tal mentalidade.




Crianças precisam de meios que potencializem sua criatividade e compreensão progressiva do mundo e de si própria. Adultos e instituições que auxiliem a criança nessa descoberta tornarão a infância a melhor das épocas.





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