segunda-feira, 18 de março de 2019

Hesíodo e a origem dos deuses


Segundo o mito, antes  de tudo  existia o Caos. E foi do Caos que nasceu a primeira divindade: Gaia, a Terra. A palavra "nascer" não é muito adequada, pois todo nascer pressupõe um pai e uma mãe. O Caos não é homem ou mulher, macho ou fêmea, tampouco o Caos é filho de alguma coisa. O adequado talvez seja dizer que Gaia emergiu do Caos, tal como uma ilha que sobe do fundo do oceano. Gaia emergiu   da multiplicidade indivisível de uma realidade inesgotável. Gaia é singular, incomparável, única de sua espécie: Ancestral Mulher. De Gaia nasceu Uranos, o Céu. "Nascer" também é um termo inadequado, já que Gaia não tinha par. Talvez seja mais adequado dizer que o Céu-Uranos foi um pedaço da Terra que se separou dela, pondo-se acima a gravitar. Nessa época , a Terra era toda ventre, múltiplos ventres. Cada ventre era uma caverna que ia dar no Caos, a imanência fértil, da qual a Terra emergiu. E foi por um desses ventres que veio ao mundo Eros, o Amor. Este ocupou o lugar vazio entre a Terra e o Céu, pois o Amor fez nascer a ideia de que toda separação é vazio a ser vencido. Sob o poder de Eros, o Céu deitou-se sobre a Terra: as estrelas daquele viraram sementes desta, e assim nasceram novos deuses filhos do Céu e da Terra. Cada divindade nova nascia das estrelas do Céu  plantadas como sementes na Terra. Talvez seja isso que queira dizer Manoel quando ensina que "poesia é celestar as coisas do chão." Entre essas estrelas-sementes a mais potente foi Cronos, o Tempo, filho do Céu e da Terra unidos  por Eros. 


“A literatura é o esforço para interpretar engenhosamente os mitos que não mais se compreende, por não sabermos mais sonhá-los ou produzi-los.” (Deleuze)




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