domingo, 5 de março de 2023

Sofias...

 

A palavra “filosofia” nasceu de um encontro. Isso serve para nos lembrar que ninguém se torna filósofo a partir do próprio ego, sozinho. A filosofia nasceu do encontro de duas ideias expressas nas palavras “philo” e “sophia”.

“Philo” não significa apenas amizade, philo também tem por sentido “amor”. Ou seja, na base da filosofia não estão teorias ou raciocínios abstratos, em sua base está o Afeto.

Espinosa dizia ser a “Alegria” o afeto mais filosófico; Heidegger e Sartre afirmam  ser a “Angústia”; já Aristóteles defendia  que é a “Admiração”; e Epicuro ensina ser o “Prazer” o afeto-base da filosofia.

Mas não existe filósofo que diga que a filosofia possa nascer  do ódio, do rancor ou do ressentimento. Ao contrário, esses sentimentos reativos nos afastam do pensar, do sentir e do agir emancipatórios.

Porém “philo” não é  o amor no sentido idealista ou romântico. Pois o amor-afeto que leva ao pensar nasceu da junção da letra “a” com função privativa ( como em “a-fasia”= “sem fala”) mais a abreviação da palavra “morte” ( “mor”). Assim, o amor pensante é  : “não morte”.

Quando lutamos pela democracia, é pela não morte dela que lutamos; quando agimos pela educação, é pela não morte da educação; quando nos indignamos frente à barbárie , é pela não morte da justiça; quando defendemos a vida digna, é pela não morte de nós mesmos, individual e coletivamente.

Assim compreendido, o amor não é apenas afeto subjetivo, ele também é potência atuante transformadora da realidade.

“Sophia”, a sabedoria,  é mais do que a mera   “Razão” . Em grego, "Razão" é "Logos", palavra masculina. Enquanto "Razão" é raciocínio, teoria e moral, Sophia também  é sensibilidade, criatividade, intuição e ética, assim unindo o pensar à prática.

“Sophia” não é apenas texto ou livro , pois a sabedoria  se mostra sobretudo no agir , na “eloquência da ação”, ensina Cícero.

"Sophia", ou "Sofia", também é o belo nome que muitos casais escolhem para assim nomearem a vida nova que nasceu do encontro amoroso deles. Pois é isto a sabedoria: um trazer à vida para afirmar a vida, resistindo àqueles que cultuam a ignorância e a morte, nos vários sentidos que a morte tem.

Não importa se o nome de batismo do filósofo  é Lucrécio , Deleuze, Foucault , Nietzsche , Marx, Bakunin ou Espinosa:  quando é libertário , todo filósofo se rebatiza “Sofia” quando pensa, age  e filosofa.  

“Razão” não é nome, embora muitos se autointitulem donos dela e se tornam dogmáticos: não por acaso,   inúmeras vezes a “Razão” serviu a posturas falocráticas e misóginas.

“Sophia” é nome  que expressa diferenças, singularidades, devires. Mas assim como um nome vem sempre acompanhado por sobrenomes, o nome completo da filosofia, a sua assinatura vital ,   é o nome Sofia  acompanhado pelos sobrenomes  Luta, Generosidade   e  Coragem.


( na semana do Dia Internacional de Luta das Mulheres,  estes livros são uma boa  sugestão de leitura)







Letra-poema de Violeta Parra:






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