A palavra “filosofia” nasceu de um
encontro. Isso serve para nos lembrar que ninguém se torna filósofo a partir do
próprio ego, sozinho. A filosofia nasceu do encontro de duas ideias expressas
nas palavras “philo” e “sophia”.
“Philo” não significa apenas amizade,
philo também tem por sentido “amor”. Ou seja, na base da filosofia não estão
teorias ou raciocínios abstratos, em sua base está o Afeto.
Espinosa dizia ser a “Alegria” o
afeto mais filosófico; Heidegger e Sartre afirmam ser a “Angústia”; já Aristóteles
defendia que é a “Admiração”; e Epicuro
ensina ser o “Prazer” o afeto-base da filosofia.
Mas não existe filósofo que diga que
a filosofia possa nascer do ódio, do
rancor ou do ressentimento. Ao contrário, esses sentimentos reativos nos
afastam do pensar, do sentir e do agir emancipatórios.
Porém “philo” não é o amor no sentido idealista ou romântico.
Pois o amor-afeto que leva ao pensar nasceu da junção da letra “a” com função
privativa ( como em “a-fasia”= “sem fala”) mais a abreviação da palavra “morte”
( “mor”). Assim, o amor pensante é :
“não morte”.
Quando lutamos pela democracia, é
pela não morte dela que lutamos; quando agimos pela educação, é pela não morte
da educação; quando nos indignamos frente à barbárie , é pela não morte da
justiça; quando defendemos a vida digna, é pela não morte de nós mesmos,
individual e coletivamente.
Assim compreendido, o amor não é
apenas afeto subjetivo, ele também é potência atuante transformadora da
realidade.
“Sophia”, a sabedoria, é mais do que a mera “Razão” . Em grego, "Razão" é
"Logos", palavra masculina. Enquanto "Razão" é raciocínio,
teoria e moral, Sophia também é
sensibilidade, criatividade, intuição e ética, assim unindo o pensar à prática.
“Sophia” não é apenas texto ou livro
, pois a sabedoria se mostra sobretudo
no agir , na “eloquência da ação”, ensina Cícero.
"Sophia", ou
"Sofia", também é o belo nome que muitos casais escolhem para assim
nomearem a vida nova que nasceu do encontro amoroso deles. Pois é isto a
sabedoria: um trazer à vida para afirmar a vida, resistindo àqueles que cultuam
a ignorância e a morte, nos vários sentidos que a morte tem.
Não importa se o nome de batismo do
filósofo é Lucrécio , Deleuze, Foucault
, Nietzsche , Marx, Bakunin ou Espinosa:
quando é libertário , todo filósofo se rebatiza “Sofia” quando pensa,
age e filosofa.
“Razão” não é nome, embora muitos se
autointitulem donos dela e se tornam dogmáticos: não por acaso, inúmeras vezes a “Razão” serviu a posturas
falocráticas e misóginas.
“Sophia” é nome que expressa diferenças, singularidades,
devires. Mas assim como um nome vem sempre acompanhado por sobrenomes, o nome
completo da filosofia, a sua assinatura vital , é o nome Sofia acompanhado pelos sobrenomes Luta, Generosidade e
Coragem.
( na semana do Dia Internacional de Luta das Mulheres, estes livros são uma boa sugestão de leitura)
Letra-poema de Violeta Parra:
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