domingo, 26 de março de 2023

Espinosa e o Absolutamente Infinito

 

Em Espinosa, Deus é a própria natureza. Cada ser que existe é um modo ou maneira de ser de Deus, que se expressa de infinitas maneiras, sendo cada maneira um modo singular de Deus se expressar.

Quanto mais se compreende Deus, mais essa compreensão é acompanhada de um afeto: o amor. Mas não se trata do amor cujo oposto é o ódio. Pois não tem contrário o  amor que nasce da compreensão do Absolutamente Infinito , pois não há nada contrário ao Absolutamente Infinito.

O Absolutamente Infinito não pode ser destruído, tampouco ser objeto de cobiças que ensejam disputas egoicas. Ninguém fala pelo Absolutamente Infinito, a não  ser aqueles em cuja voz se podem ouvir infinitas vozes, incluindo a voz do canto dos passarinhos e a voz daqueles que não têm voz.

Espinosa ensina que quem ama de verdade esse amor não fica à espera de ser amado por Deus. Pois ficar à espera de ser correspondido pelo amor que se ama é viver o amor que pode ser apagado pelo ódio , no caso da não correspondência.

Como somos modos de Deus, é Deus mesmo que se ama no amor que temos por ele. Quem vive à espera de ser amado por Deus, na verdade não se ama, tampouco é capaz de amar empaticamente  ao outro . É amando a Deus que amamos a nós mesmos no amor que Deus tem de si através de nós.

Como Deus é cada coisa, amar a Deus é amar cada coisa . Não no sentido piegas , mas no sentido de compreender que cada coisa existe por uma necessidade. E é essa necessidade de existir o outro nome do  amor. Quem ama esse amor não ama esperando ser amado em troca, pois ama por necessidade.

Uma necessidade que é idêntica à liberdade. Assim compreendida, a liberdade  não é fazer aquilo que o ego quer, liberdade é agir conforme a necessidade que se explica pelo Absolutamente Infinito , tal como ele se expressa em cada acontecimento singular aqui e agora, inclusive no acontecimento de amar o Absolutamente Infinito infinitamente.

O amor assim compreendido é um afeto ativo que tem por causa a ideia objetiva de Deus, o Absolutamente Infinito, na medida em que nos compreendemos como efeito dessa causa agindo não só externamente , mas sobretudo intimamente a nós.

Os homens  da imaginação dizem: “Deus te ama, desde que você siga nossa religião”. Mas Espinosa ensina que é pela compreensão da natureza que nasce em nós o amor por Deus e de Deus, enquanto Potência generosa e transformadora, ao mesmo tempo ética, clínica e política. 






 (Fachada do Paço Imperial /Rio de Janeiro: exposição sobre os heterônimos de Fernando Pessoa)





Um comentário:

cauepizindim disse...

“QUE NINGUÉM ENTRE AQUI, EXCETO OS GEÔMETRAS”

Dispôs, Deus, do seu tempo infinito.
Terno e eterno é o Tempo; pois
É terno o Amor Divino.

Amor Universal,
Em versos,
Cria o Universo,
Uno,
Em ato universal do seu amor.

Em tamanha,
Enorme explosão de ternura,
Cria a matéria:
Dispersas partículas.
Imbuídas de eterna tendência a se reagrupar
Na ternura do amor universal.

Cada átomo dessa matéria prima,
Prima Matéria,
Busca se reunir,
Se abraçar.

Abraçados uns aos outros,
Atômicos elementos,
Consubstanciam-se em combinações, em relacionamentos
Plurais, moleculares.

Na pluralidade, se organizam, e
Seguem tomando forma, já
À vista, umas das outras.
Organismos.
Cognição.
Inteligência.
Vida.

Inteligência viva, então, 
A matéria questiona a Vida.
E, necessita da morte para contrastar a vida;
Para entender os ciclos do Tempo;
Para sentir a ternura
Da energia do amor que reúne
Os diversos
No universo
Plural.

Necessita, a matéria,
Conhecer a separação
Para descobrir que somente há
Parte no Todo,
No Uno,
Amor Universal.

Dispôs assim, Deus,
Do seu tempo infinito ...

robertomarques