A palavra “museu” vem de “Musa”.
Infelizmente, a ideia que se tem hoje de “Musa” é herdada do Romantismo, que
via nas Musas entidades inacessíveis habitando no elitista Monte Parnaso.
Porém, no seu sentido
originário, “Musa” significa:
“conhecimento que vem das artes”. Pois as artes também ensinam: desse ensino
participa não apenas a mente, igualmente
participam a sensibilidade e o corpo.
Museu
também era o nome de um poeta.
Segundo algumas versões, Museu era filho de Orfeu, o Poeta Originário.
Vítima de vingança, Orfeu foi covardemente despedaçado pelas Fúrias,
divindades ligadas ao ódio e à barbárie ,
que assim imaginavam que calavam e venciam Orfeu.
Porém Museu recolheu os fragmentos-obras de Orfeu, depois os expôs reunidos num espaço aberto ao público. Assim,
Museu criou a primeira exposição do
mundo.
Por intermédio da exposição, Museu comemorava
a vida e obra de Orfeu, dando-as a conhecer . “Co-memorar”: “criar memória
junto”. Dessa maneira, Orfeu renascia como
conhecimento que afeta e transforma, assim vencendo a necropolítica de seus carrascos ( tal como o Museu de Bacurau que
co-memora e mantém viva as lutas do povo nordestino).
Museu também tinha a potência de fazer nascer fontes sobre a terra, mesmo
onde a terra era infértil ou desértica. A fonte que brota e irriga a terra é
uma das imagens arquetípicas da vida. Não por acaso, o poeta Manoel de Barros
ensina que poesia é o “fontanejar” de
sentidos, ideias e olhares novos.
O Museu da Maré é um dos meus
preferidos. Ele fica no Complexo da Maré, comunidade onde nasceu e cresceu
Marielle Franco. É parte do acervo do
Museu da Maré a luta de Marielle.
Acervo vem de “cérvix”. Dessa palavra
também se origina “cervical” : a coluna
que sustenta não apenas nossa cabeça , como
também a conecta com nossos braços e
pernas, para que as ideias que pensamos se tornem ação sobre o mundo. É a
coluna cervical que nos mantém também de
pé.
Um acervo existe para pôr e manter de
pé ideias, questionamentos, afetos, desejos,
valores . Integra o acervo do
Museu da Maré a porta que fazia parte do gabinete da vereadora Marielle. Porta que vivia sempre aberta à pluralidade, ao outro , à
dignidade e às lutas por uma sociedade mais justa e igualitária.
Hoje faz cinco anos que carrascos derrubaram covardemente Marielle . Porém, através de suas ideias Marielle persevera ainda de
pé e fontaneja onde quer que exista luta e resistência a favor da vida digna e
contra as “Fúrias” de hoje e suas
vilanias.
- A porta que fazia parte do gabinete de Marielle:
-Visita virtual ( imperdível) ao Museu da Maré/Exposição Marielle:
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