1- Em razão dos episódios hediondos
do último domingo, está sendo muito lembrado o texto de Freud “Psicologia das
massas e análise do eu”.
Segundo Freud, a massa anula a
personalidade dos indivíduos que entram nela, ao mesmo tempo desfazendo nesses
indivíduos mecanismos psicológicos que freiam a subida à mente de impulsos associais destrutivos. Na massa
esses impulsos circulam e amalgamam cada
indivíduo , desumanizando-os.
Cada indivíduo tem um nome, porém a
massa é anônima: fazendo parte dela, cada indivíduo perde criminosamente a
noção de responsabilidade por seus atos,
uma vez que quem age é a massa : na massa
são reveladas as sombrias faces
ocultas que se escondem atrás do rosto
do chamado “homem de bem...”
Sob o poder da massa, pequenas antipatias se tornam ódios
mortais , enquanto seus líderes são
tratados como seres divinizados cujas
mensagens se tornam palavras de ordem a serem repetidas e obedecidas fanaticamente.
Segue um trecho de Freud: “As massas
nunca tiveram a sede da verdade. Requerem ilusões(...). Nelas o irreal tem
primazia sobre o real.”
2- Acrescentando ao que diz Freud,
trago Espinosa. Não são a mesma coisa as ideias de “massa”, “povo” e o que
Espinosa chama de “multitudo”.
As massas são instrumentos passivos
de “líderes” que as fomentam e as mantêm arrebanhadas canalizando a seu favor , e contra seus
inimigos ( reais ou imaginários),
impulsos como o ódio , o medo , a
violência e a obediência cega, servil.
Já o povo é um conceito jurídico-político.
O povo não tem um líder que o submete e arrebanha; ao contrário, o povo escolhe seus líderes mediante
preferências eleitorais democráticas. É
verdade que “todo poder emana do povo”, porém povo não é massa.
A palavra “multitudo” tem por sinônimo
“multiplicidade”. Multiplicidade é tudo aquilo que potencializa e torna
múltipla a singularidade que dela faz parte.
A multiplicidade não tolhe, ela
multiplica; ela não destrói, ela cria; ela não odeia, ela ama a si própria e
por isso se indigna contra as tiranias;
ela não escolhe líderes, ela afirma a si mesma como soberana.
A multitudo não é massa anônima que
dissolve os eus na irresponsabilidade insana, a multitudo é a expressão de um
“nós” ético-político enquanto agenciamento plural de singularidades não egoicas
.
Ao contrário de uma nação , a multitudo não habita apenas um país, ela
habita a Terra, embora seja sempre num país, numa cidade ,ou mesmo num bairro,
que ela se manifesta.
E onde a multitudo se manifesta,
neste espaço também se expressam as questões sem fronteiras determinadas que
concernem à humanidade inteira em seu avançar
educacional-democrático-civilizatório.
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