O fascismo e o autoritarismo sempre
se apoiam em “universais abstratos”. Um universal abstrato é uma ideia vazia que
nega a heterogeneidade real, ao mesmo tempo colocando
acima de todos uma noção homogênea que serve
de biombo ou máscara que esconde a face do
poder excludente.
“Deus” , “pátria” e “família”,
por exemplo, são “universais abstratos” que escamoteiam a intolerância a
vivências distintas do sagrado, o ódio às etnias diversas que compõem nossa
nação e o preconceito às formas diferentes de conjugalidades amorosas.
O pensamento reacionário parte de um
raciocínio de “quebra-cabeça” para pensar a sociedade: eles imaginam que cada grupo
social diferente, que cada minoria, é como uma peça de um quebra-cabeça cujo
lugar no “todo” deve obedecer a uma ordem que as submete a uma maioria branca,
proprietária, cristã, heterossexual, conservadora, militarista, falocrática.
A lógica desse raciocínio de
quebra-cabeça não é a combinatória pautada na igualdade, mas a da submissão a uma hierarquia não democrática que tenta colocar as minorias sob
o poder de uma maioria que as nega ,
exclui e persegue. “Maioria”, aqui, não é ser em maior número, e sim querer ser
padrão.
O sonho de todo fascista é
transformar a sociedade num quebra-cabeça submetido a uma ordem autoritária na qual as peças , à
força combinadas , formem a face do ditador.
Hitler dizia : “Eu sou a face da Alemanha”.
O contrário dos “universais abstratos”
é o “universal concreto”. Todo universal concreto é uma singularidade. O
universal concreto não é um ego, pois o universal concreto, em suas palavras e
ações, expressa a força de muitos que
com ele se identifica, mas sem perder cada um a sua diferença.
O universal concreto não é um universal vazio que se preenche e dá
visibilidade ao rosto autoritário ; ao contrário, o universal concreto inclui a face daqueles
que o poder excludente quer invisível.
O universal concreto expressa a potência
da heterogeneidade social em sua riqueza inesgotável.
O universal abstrato tende a se
confundir com o rosto do tirano querendo-se acima de todos, já o universal concreto , em sua
singularidade, é sempre a imagem viva do rosto plural do povo.
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