Sob o Império Romano , alguns mercadores de escravos obrigavam
seus servos a decorarem Homero, Hesíodo, Safo, Píndaro...Esses
escravos decoravam os textos e sabiam informar onde se encontrava cada verso.
A elite de Roma, preguiçosa de estudar porém
ávida para ostentar erudição superficial, essa elite comprava esses escravos,
que eram os mais caros.
Quando tal elite promovia banquetes e
festas, os ricos esnobes mantinham
tais escravos por perto. Assim,
quando um elitista pedante queria
esnobar conhecimento citando alguma passagem dos poetas e literatos, ele
chamava o escravo do qual ele era o dono e perguntava no ouvido dele onde ficava tal passagem da
obra, recebendo então a informação do escravo ( que a cochichava em seu ouvido
, dando a “cola”).
Os convivas de tal elite esnobe
aceitavam esse expediente hediondo com naturalidade, uma vez que os escravos não
eram vistos como seres humanos, mas como um instrumento a serviço de seu dono.
Por razões políticas que escapavam à
sua vontade, ainda muito jovem Epicteto foi feito escravo em Roma. Inclusive,
seu nome verdadeiro não é “Epicteto”, que significa “comprado” ( pois ele foi
comprado como escravo). Seu nome verdadeiro se perdeu, ninguém sabe. Porém ,
Epicteto adquiriu o nome de filósofo ao exercer seu pensar autônomo, sem dono e algemas.
Em vez de ser decorador de textos
e servir de instrumento útil à
elite escravocrata, Epicteto estudou
clandestinamente filosofia, fazendo desta um meio libertário a favor dos
perseguidos e injustiçados .
Epicteto foi um dos primeiros
filósofos a ensinar a igualdade não apenas entre os homens, mas sobretudo entre
homens e mulheres. Foi exercendo o pensar contra toda forma de grilhões que
Epicteto se libertou , ao mesmo tempo
libertando muitos, ontem e hoje .
Como já dito, ninguém sabe ao certo o
nome de nascimento de Epicteto, porém todos reconhecem que ele deve receber o
nome de pensador-filósofo, nome conquistado efetivamente por meio de sua prática pedagógica emancipadora.
Não importa em qual área, ninguém se educa e se autonomiza apenas
decorando cartilhas que o poder obriga. Quem apenas decora informação é escravo
e não pensa, sendo útil a alguém que o explora: ontem, a elite romana; hoje, a visão instrumental/privatista do ensino negadora da filosofia e submetida ao poder imperial do “mercado”.
Pensar nada tem a ver com erudição
pedante ou “decoreba” de textos . Em
Roma, era proibido aos escravos
interpretarem os textos , pois interpretação é atividade de um
pensamento livre que , sem dúvida, se apoia em
textos, porém não está algemado neles servilmente.
Além disso, a autêntica
interpretação, a que realmente autonomiza e educa, nunca é apenas interpretar
textos, mas interpretar/ler, primeiramente , o mundo ( como ensina o educador
Paulo Freire). Quem aprende a interpretar
crítica e criativamente o mundo faz dessa leitura a chave que abre algemas (
literais e simbólicas).
Nenhum comentário:
Postar um comentário