Quando um acontecido passa e se torna passado, e entre ele e nós vai aumentando uma distância que só o tempo pode medir ( pois não é uma distância no espaço), esse passado que passou , sua passagem e o seu ficar para trás, é algo irreversível?
O que passou se vai e nunca pode ser de novo vivido a não ser como um fantasma que se evoca ?
Ou será que é o passado que retém e salva o que no presente passa? Afinal, dizia Bergson, não é o passado que passa, quem passa é o presente.
Não é o acontecido que se afastou, fomos nós que nos afastamos dele? Somos como peixes que saíram da nascente do rio onde nascemos e fomos ao mar?
É possível, tal como fazem os peixes, desterritorializar-se do mar, entrar de novo na foz do rio, subi-lo contra a correnteza e alcançar de novo a fonte onde nascemos?
Se isso
for possível, esse retorno ao passado não é nostalgia, ele é o intuir a própria
vida que nunca se afasta de si mesma. Ir para o passado , para essa "origem que renova" ( diria Manoel de Barros), não é um voltar, mas um
ir para dentro, cada vez mais próximo de onde o tempo brota.
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