Segundo Epicuro, não há injustiça sem
a quebra de um contrato. Porém, Epicuro nos ensina que há um contrato primeiro
ou originário, do qual todos os outros contratos ( jurídicos, morais...)
dependem.
Esse
contrato originário é um “contrato natural” , um contrato que envolve a
natureza de como existimos no mundo e nos relacionamos com o cosmos, com os
outros e, sobretudo, com nós mesmos.
O contrato original de que fala
Epicuro não é , contudo, o famoso “contrato
social” evocado pelos contratualistas do século XVIII. O contrato de Epicuro é
mais original ainda. Ele não é um contrato social ou jurídico, ele é um
contrato filosófico ou existencial: um contrato consigo mesmo.
Sem essa relação fundamental consigo
mesmo, não nos fortalecemos para resistirmos às injustiças e arbitrariedades
que ameaçam a nós mesmos e a convivência social. A função desse contrato é nos
edificar, isto é, pôr de pé.
Esse contrato consigo mesmo, portanto
, não é para dar mero poder ao ego,
tampouco é algo apenas individualista. Esse contrato se expressa por uma
prática: o cuidado. “Cuida de ti mesmo”, é o primeiro princípio existencial
desse contrato. Ele não está escrito como lei, ele precisa ser feito enquanto
motor da nossa ação e prática.
Somente aquele que sabe estabelecer
esse contrato consigo mesmo está apto a ser um agente autônomo requerido pelo
contrato social com os outros.
O contrato consigo mesmo é a união do
pensar, do agir e do sentir: ele é, ao mesmo tempo, filosófico, ético
e estético.
Enquanto mantivermos esse contrato
com a gente mesmo ( nunca o rompendo pelo desamor a si) , nos edificarão a dignidade e a
coragem , para assim enfrentarmos , de pé,
as injustiças e indignidades .
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