quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

a ética de Epicuro enquanto cuidado consigo mesmo

 

Segundo Epicuro, não há injustiça sem a quebra de um contrato. Porém, Epicuro nos ensina que há um contrato primeiro ou originário, do qual todos os outros contratos ( jurídicos, morais...) dependem.

Esse  contrato originário é um “contrato natural” , um contrato que envolve a natureza de como existimos no mundo e nos relacionamos com o cosmos, com os outros e, sobretudo, com nós mesmos.

O contrato original de que fala Epicuro não é , contudo, o famoso “contrato social” evocado pelos contratualistas do século XVIII. O contrato de Epicuro é mais original ainda. Ele não é um contrato social ou jurídico, ele é um contrato filosófico ou existencial: um contrato consigo mesmo.

Sem essa relação fundamental consigo mesmo, não nos fortalecemos para resistirmos às injustiças e arbitrariedades que ameaçam a nós mesmos e a convivência social. A função desse contrato é nos edificar, isto é, pôr de pé.

Esse contrato consigo mesmo, portanto ,  não é para dar mero poder ao ego, tampouco é algo apenas individualista. Esse contrato se expressa por uma prática: o cuidado. “Cuida de ti mesmo”, é o primeiro princípio existencial desse contrato. Ele não está escrito como lei, ele precisa ser feito enquanto motor da nossa ação e prática.

Somente aquele que sabe estabelecer esse contrato consigo mesmo está apto a ser um agente autônomo requerido pelo contrato social com os outros.

O contrato consigo mesmo é a união do pensar, do agir e do sentir:  ele é, ao mesmo tempo, filosófico, ético e estético.

Enquanto mantivermos esse contrato com a gente mesmo ( nunca o rompendo pelo  desamor a si) , nos edificarão a dignidade e a coragem , para assim enfrentarmos , de pé,   as injustiças e indignidades .










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