O nome desta pintura é: “Aristóteles
contemplando o busto de Homero”, de Rembrandt. Ela foi pintada em 1653.Aqui se
pode observar a postura de grande admiração do filósofo em relação ao poeta.
Aristóteles pousa com
cuidado a mão direita , a mão com a qual ele escreve sua filosofia, sobre a
cabeça do poeta, como se buscasse nela a inspiração. Homero, que era cego, faz
o filósofo olhar longe...muito além de meras teorias e conceitos abstratos.
Há nesta cena um aprendizado por contágio, um
aprendizado do qual o próprio corpo afetivo e expressivo participa, e não apenas o mero intelecto
teórico.
Parece que o filósofo recebe uma transfusão do
poeta. Não uma transfusão literal de sangue, mas de afeto ( que é o sangue do
espírito).
Transmutado, parece que o filósofo olha de mais perto a
vida , a vida plural e múltipla, tangível e intangível, olhando ao mesmo tempo
para fora e para dentro. Como diz Manoel de Barros, quando viva e potente, a
poesia provoca horizontamentos e dasabrimentos...
Há uma luz transversal e
intensa, como o clarão de um relâmpago, um clarão que intensifica o ver e não
fere, que parece se desprender dos livros ( no alto à esquerda). Esse clarão passa pela
cabeça do poeta, envolve-a, e se irradia sobre o filósofo absorto,
iluminando-o por fora e por dentro , até
emanar de seus olhos como luz das Ideias que acha um caminho , apesar das
trevas.
“Contemplar” vem de “com-templo”:
“entrar onde mora o divino”. Quando entramos no divino, o divino também nos entra,
nos é habitado. Divino não no sentido
religioso, mas enquanto espaço transfigurador das Musas.
A palavra “divino” vem de
um termo muito antigo do sânscrito, significando “brilho da luz”. A palavra “musa” , por sua vez, significa: “conhecimento
que vem das artes.” Talvez seja esse conhecimento transmutador que o filósofo busque quando, antes de escrever seus
conceitos, apoia sua mão sobre a cabeça generosa e criativa do poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário