sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

a luz, o filósofo e o poeta


 


O nome desta pintura é: “Aristóteles contemplando o busto de Homero”, de Rembrandt. Ela foi pintada em 1653.Aqui se pode observar a postura de grande admiração do filósofo em relação ao  poeta.

Aristóteles pousa com cuidado a mão direita , a mão com a qual ele escreve sua filosofia, sobre a cabeça do poeta, como se buscasse nela a inspiração. Homero, que era cego, faz o filósofo olhar longe...muito além de meras teorias e conceitos abstratos.

 Há nesta cena um aprendizado por contágio, um aprendizado do qual o próprio corpo afetivo e expressivo  participa, e não apenas o mero intelecto teórico.

 Parece que o filósofo recebe uma transfusão do poeta. Não uma transfusão literal de sangue, mas de afeto ( que é o sangue do espírito).

Transmutado,  parece que o filósofo olha de mais perto a vida , a vida plural e múltipla, tangível e intangível, olhando ao mesmo tempo para fora e para dentro. Como diz Manoel de Barros, quando viva e potente, a poesia provoca horizontamentos e dasabrimentos...

Há uma luz transversal e intensa, como o clarão de um relâmpago, um clarão que intensifica o ver e não fere, que parece se desprender dos livros ( no alto à esquerda). Esse clarão  passa pela  cabeça do poeta, envolve-a, e se irradia sobre o filósofo absorto, iluminando-o por fora e  por dentro , até emanar de seus olhos como luz das Ideias que acha um caminho , apesar das trevas.

“Contemplar” vem de  “com-templo”:  “entrar onde mora o divino”. Quando  entramos no divino, o divino também nos entra, nos é habitado.  Divino não no sentido religioso, mas enquanto espaço transfigurador das Musas.

A palavra “divino” vem de um termo muito antigo do sânscrito, significando “brilho da luz”.  A palavra “musa” , por sua vez, significa: “conhecimento que vem das artes.” Talvez seja esse conhecimento transmutador que o  filósofo busque quando, antes de escrever seus conceitos, apoia sua mão sobre a cabeça generosa  e criativa do poeta.




 

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