sexta-feira, 18 de junho de 2021

espinosa, francisco e o lado certo do muro

 

Segundo Espinosa, é uma ilusão imaginar que um homem autoritário  poderia se tornar um homem justo se assim o quisesse, como se a passagem da tirania  à justiça   dependesse  de um ato de vontade de tal homem. É ilusão ainda maior imaginar que quem promove a morte e a ignorância um dia mudará e passará a cultivar a vida e o conhecimento. Esse tipo  de ilusão é comum aos que se colocam  como “neutros” politicamente ( sem falar nos  empresários dissimulados que  vestem a “neutralidade” apenas como máscara  cínica   ,pois  por debaixo dos panos são sócios do tirano em seu projeto de retirar direitos sociais do povo).

Essa “neutralidade política” lembra aquele indeciso  que estava em cima de um muro entre  o Diabo e São Francisco. Por mais que   São Francisco pedisse para que o neutro cultivasse a empatia , não se acovardasse , tomasse partido e viesse para o lado dos justos , o indeciso não se movia,   ficando parado em cima  do muro. Estranhando o silêncio do Diabo (que adora contar “vantagens”, ele que é “O Pai da Mentira”, rebatizado “O Pai das Fake News”),   São Francisco levantou a cabeça, olhou sobre o muro  e perguntou ao Diabo  qual a razão daquele   silêncio inabitual. E o Diabo, com ar triunfante,  enfim disse: “enquanto o neutro se mantiver onde está , ele é meu, pois esse muro foi erguido  por mim para ocultar   minha  treva da tua luz. ”

Publicamente o carrasco até finge que mudará, mas entre os seus ele ri e zomba enquanto afia seus instrumentos de tortura. Se um homem autoritário e  perverso   não consegue se tornar alguém diferente,  é porque disso ele não é capaz, ou seja, essa incapacidade é uma amostra pública não da  impotência  de sua  vontade, mas da natureza vil de seu caráter, um caráter de torturador sádico.

Se olharmos para aquilo que ele de fato  é,  e  não com  expectativas incautas de como ele deveria ser, veremos que o torturador tem uma vontade bem determinada. Determinada não em mudar, e sim  determinada em continuar a  torturar: a nós, aos doentes, a democracia.

Se um homem alcançou o poder por intermédio do voto não escondendo  de ninguém que é autoritário, ignorante,  misógino...é uma ilusão perigosa achar que ele mudaria de natureza exatamente quando chega ao poder ( como pensavam que  ele mudaria,  e ainda pensam que ele  vai mudar  , setores da mídia golpista, parte do judiciário e sistema financeiro,  que apoiaram e ainda apoiam o genocida, por cumplicidade, covardia  ou negociatas com o patrimônio público).

A obtenção de  poder tornou  o autoritário  ainda mais despudorado  em ser como ele é , aglomerando   com mais submissão  em torno dele seres que são como ele  , mas que tinham  vergonha de assumir sua ignorância e baixeza  em público.

Por outro lado, isso também deixa mais evidente os muitos que são  diferentes dele e de seu rebanho. E pela democracia  , pela educação,  pela vida ,enfim , a eles resistirão.




 

Repito aqui os mesmos argumentos que empreguei para justificar minha ida à manifestação de 29M: compreendo  quem considera  não ser ainda  hora de irmos às ruas. Porém, mesmo a gente não indo às ruas, com o genocida no poder haverá a 3ª e até uma 4ª onda; sem as ruas, 2022  pode nem chegar... Trago as  palavras de Espinosa, válidas para ontem, hoje e amanhã: “O que o tirano mais teme é a indignação , pois é esse o afeto que une os justos e os põe unidos na rua”. Acrescentando para agora : ir às ruas , mas com máscara e todo o cuidado possível com nossas vidas e as dos outros. Aqui no Rio:



 


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