Segundo o filósofo Bergson, existem
dois tipos de sociedade: a fechada e a aberta. A sociedade fechada é
representada sobretudo pela ideia de “pátria”, extensão simbólica da família
patriarcal , uma microssociedade
igualmente fechada . Muito se fala em
“amor à pátria”, porém inúmeras vezes esse
amor se alimenta do ódio às outras
pátrias: incontáveis guerras foram deflagradas em nome do “amor à pátria”. E há
ainda os que se acham “donos da pátria”,
paranoicamente sempre perseguindo aqueles que eles consideram “inimigos internos da pátria”. Os pretensos “donos da pátria” consideram “inimigos
internos da pátria” aqueles que agem por uma sociedade mais igualitária e plural, uma Mátria
não patriarcal.
Já a sociedade aberta, segundo Bergson, não é nenhuma pátria, por maior que uma pátria
seja. A diferença entre a sociedade fechada e a sociedade aberta é a mesma que
há entre o finito e o infinito, ou entre a
cerca que limita e o horizonte que amplia. Existem muitas sociedades
fechadas, porém a sociedade aberta é uma só, ao mesmo tempo una e múltipla. A
sociedade aberta é a humanidade. O inimigo de uma pátria pode ser outra pátria, mas o inimigo da
humanidade é quem governa com insanidade uma pátria pondo em risco não só os
que moram nela, mas toda a humanidade . Toda
pátria é um recorte feito sobre a humanidade, de tal modo que todo habitante de
uma pátria também o é, primeiro , da humanidade. Quando uma pátria se acha
superior ao restante da humanidade, surge então a pátria nazifascista cujo poder se
alimenta da desumanidade. O amor à pátria se torna excludente
e negacionista se não for inserido no
amor à humanidade enquanto prática ética e política de proteção da humanidade
de cada um. Os defensores de toda pátria vestem uniformes militares e pegam em armas, mas os defensores da
humanidade seguram livros, pincéis,
lápis... sem largar a mão daqueles que os donos da pátria perseguem ou deixam
sem teto, sem terra, sem justiça, sem dignidade, com fome.
Pertencer a uma sociedade fechada é
falar uma língua determinada e ocupar determinado território. Mas pertencer à
humanidade é se reconhecer em toda fala que , fazendo-se ação, potencializa a vida
e a liberdade, não importando a nacionalidade. Nenhuma pátria
pode ser realmente livre e independente se o culto do “amor à pátria” encobre crimes contra a humanidade.
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