sábado, 17 de abril de 2021

o poder teológico-político 2

 

Existe um tipo de “religião” no Brasil que não deveria ser chamada de religião, até para não generalizar e confundi-la com as  designações cuja fonte é Lutero. Assim, essa pretensa religião deveria ser chamada pelo seu verdadeiro nome e prática: “poder teológico-político”. Foi Espinosa quem melhor diagnosticou esse tipo de poder.

O genocida lançou-se e se manteve na política sem ter base social. Nem síndico ele foi, nunca liderou nada. Ele se lançou à vereança no Rio  com a seguinte palavra de ordem: “Bandido bom é bandido morto” ( não por acaso, lema também da milícia...).  Inimigo da pluralidade  social , desde  2016  o genocida encontrou  a “base associal”  que lhe faltava: o poder teológico-político. Desde então, a palavra de ordem completa  na verdade   é :“Deus acima de tudo, Brasil acima de todos: bandido bom é bandido morto, pátria aRmada Brazil”. Hoje, o tal “bandido” não é apenas o povo preto e pobre da favela, também são  “bandidos” para eles os “esquerdistas”, os educadores, os artistas, os constitucionalistas, os defensores das florestas, os pajés, as mães de santo, enfim, os médicos e enfermeiros  que cuidam e protegem a vida . No delírio paranoico-teológico-político, todos esses são “comunistas”.

O poder teológico-político cresce com a mesma lógica predadora de uma  doença. Segundo Espinosa, o que caracteriza toda doença, tanto as do corpo quanto as da mente, tanto as individuais quanto as sociais, é que a doença é um “mau encontro”, um “mau encontro” que gera tristeza no enfermo. Tristeza é enfraquecimento da potência vital. A doença avança pelo corpo como um exército invasor se apoderando da pátria que invadiu: o que antes pertencia ao todo do organismo, a doença vai tomando conta e colocando a seu serviço destruidor , como se criasse, dentro do organismo original, um organismo paralelo-parasita sufocante.  Assim procede o poder teológico-político, base associal do genocida: extrapolando os templos, esse poder se infiltrou   no organismo  social comprando televisões, rádios, jornais, almas. Esse poder  tem sua polícia ( literalmente...), seu parlamento, sua música, suas novelas, seus filmes, seu “Messias-presidente” e até suas drogas ( no Rio há uma associação macabra entre pastores-bolsonaristas  e o tráfico para perseguir e destruir terreiros de religiões afro-brasileiras). Enfim, esse poder tem até mesmo a “sua” realidade, realidade essa onde a terra não é redonda, mas plana; na qual o vírus não é um evento da natureza, mas um castigo de Deus contra os “ímpios” ( os “ímpios” são aqueles que não fazem parte do projeto de poder teológico-político deles).Contra os ímpios se pode odiar , perseguir e ameaçar apontando  arminha com a mão. Hoje, não basta a arminha simbólica com a mão, esse poder teológico-político   também quer a seu serviço os tanques do exército. Quando  esses “vendilhões do templo”  apontam sua arminha com a mão contra quem eles demonizam ,  acertam primeiro com sua ignorância o próprio Cristo, vindo   à frente protegendo os injustiçados e oprimidos.     

( imagem: "Cristo sem-teto", do artista-escultor  Timothy P. Schmalz)





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