Existe um tipo de “religião” no
Brasil que não deveria ser chamada de religião, até para não generalizar e
confundi-la com as designações cuja
fonte é Lutero. Assim, essa pretensa religião deveria ser chamada pelo seu
verdadeiro nome e prática: “poder teológico-político”. Foi Espinosa quem melhor
diagnosticou esse tipo de poder.
O genocida lançou-se e se manteve na
política sem ter base social. Nem síndico ele foi, nunca liderou nada. Ele se
lançou à vereança no Rio com a seguinte palavra
de ordem: “Bandido bom é bandido morto” ( não por acaso, lema também da
milícia...). Inimigo da pluralidade social , desde
2016 o genocida encontrou a “base associal” que lhe faltava: o poder teológico-político. Desde
então, a palavra de ordem completa na
verdade é :“Deus acima de tudo, Brasil acima de todos:
bandido bom é bandido morto, pátria aRmada Brazil”. Hoje, o tal “bandido” não é
apenas o povo preto e pobre da favela, também são “bandidos” para eles os “esquerdistas”, os
educadores, os artistas, os constitucionalistas, os defensores das florestas, os
pajés, as mães de santo, enfim, os médicos e enfermeiros que cuidam e protegem a vida . No delírio paranoico-teológico-político,
todos esses são “comunistas”.
O poder teológico-político cresce com
a mesma lógica predadora de uma doença.
Segundo Espinosa, o que caracteriza toda doença, tanto as do corpo quanto as da
mente, tanto as individuais quanto as sociais, é que a doença é um “mau
encontro”, um “mau encontro” que gera tristeza no enfermo. Tristeza é enfraquecimento
da potência vital. A doença avança pelo corpo como um exército invasor se
apoderando da pátria que invadiu: o que antes pertencia ao todo do organismo, a
doença vai tomando conta e colocando a seu serviço destruidor , como se
criasse, dentro do organismo original, um organismo paralelo-parasita sufocante. Assim procede o poder teológico-político,
base associal do genocida: extrapolando os templos, esse poder se infiltrou no organismo
social comprando televisões, rádios,
jornais, almas. Esse poder tem sua
polícia ( literalmente...), seu parlamento, sua música, suas novelas, seus
filmes, seu “Messias-presidente” e até suas drogas ( no Rio há uma associação
macabra entre pastores-bolsonaristas e o
tráfico para perseguir e destruir terreiros de religiões afro-brasileiras).
Enfim, esse poder tem até mesmo a “sua” realidade, realidade essa onde a terra
não é redonda, mas plana; na qual o vírus não é um evento da natureza, mas um
castigo de Deus contra os “ímpios” ( os “ímpios” são aqueles que não fazem parte
do projeto de poder teológico-político deles).Contra os ímpios se pode odiar ,
perseguir e ameaçar apontando arminha
com a mão. Hoje, não basta a arminha simbólica com a mão, esse poder
teológico-político também quer a seu serviço os tanques do exército.
Quando esses “vendilhões do templo” apontam sua arminha com a mão contra quem
eles demonizam , acertam primeiro com
sua ignorância o próprio Cristo, vindo à frente protegendo os injustiçados e
oprimidos.
( imagem: "Cristo
sem-teto", do artista-escultor Timothy P. Schmalz)
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