Uma das palavras com origem mais
bonita é “contemplar”. Em grego, “templo” é : “casa onde habita o divino”.
Assim, “con-templar” é : “entrar onde mora o divino”. Para os gregos, o divino
se traduzia em muitas coisas, incluindo a própria natureza ( “physis”, cuja
origem significa: “aquilo que brota”). Quando cobravam de Sócrates que ele
nunca era visto nos templos da cidade como “todo homem de bem”, Sócrates dizia
que o templo onde realmente o divino mora é o coração, e nesse templo Sócrates
se dizia assíduo, para assim não ter a pretensão de se achar superior aos
outros homens. Pois aqueles nos quais o
coração está vazio , dissimulam construindo
e frequentando templos de ouro ( para a construção dos quais sabem com
lábia esperta sugar dinheiro dos ingenuamente
crédulos). Esses cultuadores de
templos de ouro, muitos deles também
juízes e advogados, por ressentimento , esperteza e vingança, armaram contra Sócrates e o condenaram à
morte. Viam nele um perigo... Havia também na Grécia um templo cujo altar
ficava à porta, ninguém precisava no templo entrar. Era o templo ao “deus
desconhecido” ( Nietzsche tem um belo poema exatamente com este título: “Ao
deus desconhecido”). Em vez de estátuas ou imagens, no centro do altar havia um
mármore com superfície espelhada, que mostrava refletido o rosto de quem nele olhava. “O deus
desconhecido”, dizia a frase abaixo do espelho,
“ou mora dentro de você ou não mora”. Para Espinosa, por sua vez, a
natureza inteira é divina. É a imaginação delirante e as pretensões de poder
que levam o negacionista a negar esse templo-infinito, colocando-se à parte da
natureza, a tal ponto que a destrói com ódio ou a demoniza, a natureza fora e
dentro do homem. Espinosa deu um nome a
essa forma de negacionismo: “poder teológico-político”, pois essa forma de
negacionismo da natureza sempre busca o poder político, para assim se
assenhorar do Estado e suas fontes de
poder , repressão, censura e dinheiro.
- poema de Solano Trindade: "Tem gente com fome".
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