Ontem , no meio de uma linda tarde de
outono, olhei pro céu e vi a lua. Foi curioso
vê-la assim em pleno dia. Mas o dia não desfez o seu mistério: ao
contrário, o aumentou mais ainda . Brilhava
ela suavemente no claro céu azul , quieta, na dela, sem precisar fazer força para
chamar a atenção. Ela parecia saber que
somente os fiéis a ela iriam notá-la e agradecer por aquela inesperada visita ,
presença silenciosa que melhora o dia. Já o sol nunca poderia visitar a
noite sem que a mesma noite ele apagasse. O sol não aceita o mistério : ele é a razão autocentrada, masculina , que
apenas em torno de si gira, como Narciso . Mas a lua , sem negar o sol e seu dia, às vezes aparece no meio da
tarde, como ontem, para nos lembrar dela e de sua poesia . Ela parece dizer : “apareci para não deixar sem minha luz
aqueles que, apesar dos pesares, ainda creem
que o mundo pode ser mudado; senti que os que são assim precisavam hoje de minha companhia e cuidados, embora não seja
meu horário. Não inspiro só os poetas, também posso ser enfermeira na hora do
desamparo . As estrelas não puderam vir comigo , o sol não deixa, mas mandaram
um infinito abraço”.
(esta experiência com a lua ontem me
lembrou este belo filme de Fellini; no texto de apresentação do DVD está
escrito: “O filme A voz da lua é um
poema contra a intolerância.” Fica aqui a sugestão)
Tentei fotografar a lua que vi ontem à tarde , infelizmente
a foto não ficou boa. Esta não foi tirada por mim, peguei na internet, mas dá
para ter uma ideia:
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