sábado, 24 de abril de 2021

a visita inesperada

 

Ontem , no meio de uma linda tarde de outono, olhei pro céu e vi a lua. Foi  curioso  vê-la assim em pleno dia.  Mas o dia não desfez o seu mistério: ao contrário, o aumentou mais  ainda . Brilhava ela suavemente  no claro céu azul ,  quieta, na dela, sem precisar fazer força para chamar a atenção.  Ela parecia saber que somente os fiéis a ela iriam notá-la e agradecer por aquela inesperada  visita ,  presença silenciosa que melhora o dia. Já o sol nunca poderia visitar a noite sem que a mesma noite ele apagasse. O sol não aceita o mistério  : ele é a razão autocentrada, masculina , que apenas  em torno de si gira, como  Narciso . Mas a lua  , sem negar  o sol e seu dia, às vezes aparece no meio da tarde, como ontem,  para nos lembrar  dela e de sua poesia . Ela   parece  dizer : “apareci para não deixar sem minha luz aqueles que, apesar dos pesares, ainda creem   que o mundo pode ser mudado;  senti que os que são assim  precisavam hoje  de minha companhia e cuidados, embora não seja meu horário. Não inspiro só os poetas, também posso ser enfermeira na hora do desamparo . As estrelas não puderam vir comigo , o sol não deixa, mas mandaram um infinito  abraço”. 

(esta experiência com a lua ontem me lembrou este belo filme de Fellini; no texto de apresentação do DVD está escrito: “O filme A voz da lua  é um poema contra a intolerância.” Fica aqui a sugestão)



Tentei fotografar a lua que vi ontem à tarde , infelizmente a foto não ficou boa. Esta não foi tirada por mim, peguei na internet, mas dá para ter uma ideia:











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