domingo, 3 de dezembro de 2023

a pequena musa

 

“Museu” e “Música”  se originam de “Musa”. Originalmente, “musa” significa:  “conhecimento que vem das artes”.

Na mitologia , as Musas são filhas de Zeus , divindade ligada à justiça e à ética, com Mnemósyne, Deusa da Memória. Zeus uniu-se a Mnemósyne após uma luta vencida por ele contra as forças da barbárie vinculadas à ignorância em seus variados aspectos. Dessa união entre a ética e a memória nasceram as Musas, divindades da cultura , da arte e do patrimônio.

Assim, todo patrimônio cultural nasce do matrimônio gerador de uma ética da memória, de uma memória da ética.

A cultura e a arte não existem apenas para relembrar algo que se deu no passado e passou. A cultura e a arte  existem para nos lembrar que a barbárie já foi derrotada no passado, para que dessa lembrança nasçam ações   no presente contra as barbáries de agora.

Foi este acontecimento a origem da educação e da cultura: a luta contra a ignorância, que apenas a razão sozinha não consegue vencer. Pois não é uma ignorância em relação a não saber matemática ou “cartilhas”, mas ignorância acerca do que é a justiça, a ética, a arte, a natureza, enfim, a vida.

Ontem e hoje, as forças da barbárie sempre ameaçam de destruição a cultura, porém nunca conseguirão destruir sua ideia geradora, enquanto mantivermos viva em nós ,coletivamente, a recordação daquilo que nos faz humanos, e não bestas acerebradas.

Segundo o poeta Manoel de Barros, todo ato criativo é uma “imitagem". A imitagem não é um tornar-se mera cópia de um Modelo ou Padrão. Ao contrário, a imitagem é a produção de uma diferença , como nos ensina a pequena menina da foto em sua fabricação brincativa de um estilo .

 Em toda imitagem há uma aprendizagem não escolar de uma diferença que se afirma compondo-se, em liberdade. O gesto da menina também é uma forma de interpretação que ela faz da mensagem que lhe chega por intermédio da escultura.

 Em sua imitagem, é a menina, e não a escultura, a obra de maior arte. Que a pequenina Musa, em sua inocência brincativa, nos ajude a não esquecer o que precisa ser sempre lembrado: que a vida é criação , emancipação  e arte, e que isso nos dê forças ante toda e qualquer forma de  barbárie.


“Às vezes começa-se a brincar de pensar,

e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco.”

( Clarice Lispector)


 "Minha poesia não tem função explicativa, só brincativa."

(Manoel de Barros)





 




A letra da música "Miss Tempestade" , no vídeo acima na voz de Patrícia Bastos, é um poema de Ricardo Corona musicado originalmente pelo Vítor Ramil:




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