domingo, 10 de julho de 2022

para o meu tatatataravô tupinambá

 

Entre os tupinambás que aqui viviam , quando um guerreiro da comunidade morria era necessário um último ritual.

Os tupinambás foram povos guerreiros que nunca aceitaram ser escravizados. Eles só consentiam como chefe aquele que maior capacidade tinha em se desapegar do poder. Os tupinambás não faziam guerra para ampliar posses ou fazer escravos. Eles guerreavam quando sentiam sua liberdade em risco, pois não aceitavam viver sem honra.

Para eles, a morte era a última prova, especialmente para os chefes e guerreiros tidos como corajosos, generosos, leais.

Então, quando um guerreiro morria, pintavam seu corpo com as tintas extraídas do jenipapo. Colocavam junto ao corpo seu arco e flecha, bem como a flauta feita do fêmur oco do inimigo vencido . Os tupinambás faziam flautas com o fêmur dos colonizadores. Quanto mais valoroso o guerreiro, mais flautas possuía. Quando os colonizadores invasores chegavam perto, ouviam então a música que deixava as pernas brancas deles tremendo. Não eram poucos os que saiam correndo...

Ao fim da tarde , como parte dos rituais fúnebres, punham o corpo do guerreiro numa canoa e a empurravam em direção ao horizonte. Os tupinambás não acreditavam na separação entre mar e céu. O azul comum de ambos confirmava suas crenças: o horizonte para eles era apenas um limiar, uma passagem. Guardando essa passagem ficava o Grande Ancestral.

Se o guerreiro na canoa fora um dissimulado, um traidor que a todos iludiu com esperta lábia, disso saberia o Guardião, que barraria o dissimulado na travessia ao mar do céu. Mas se o guerreiro de fato fora honrado , e não um farsante, o Guardião o deixava atravessar para no céu ser eterna estrela.

Na manhã seguinte ao ritual, ao raiar do dia, os tupinambás corriam à praia para ver se as ondas cuspiram uma estrela do mar. Se achassem uma, choravam envergonhados por terem sido enganados por tal imitação de homem virtuoso. Mas se não achassem tal estrela sem luz, na noite daquele dia faziam uma alegre festa, pois mais um guerreiro valoroso estava brilhando como estrela viva a protegê-los dos maus.

(Nesse momento, só na Amazônia há mais de 100 grupos teológico-políticos cúmplices do miliciano tentando “evangelizar” à força os povos da floresta. “Genocídio” é quando um povo extermina , com violência física, a existência de outro povo. Mas quando colonizadores  tentam roubar  a alma do outro povo  para engordar rebanhos e explorar dízimos,  essa violência na alma se chama “etnocídio”. O miliciano e seus cúmplices  pregam que os indígenas querem viver como nós. “Nós” quem, cara-pálida?)





- Este documentário é um triste relato da abominável associação entre genocídio e etnocídio  patrocinada pelo miliciano e seus cúmplices:

 







Um comentário:

cauepizindim disse...

GRÃO DE LUZ

Muito conforta uma luz que clareia o caminho já percorrido. Assim, não há que lastimar ou corrigir mas que seguir caminhando.

Trata-se de saber de onde vem a caravana e escolher para onde seguir. Honrar o passado e bem cuidar os passos de hoje.

Um pequeno grão de vida teme a morte; e, irá temer até que a saiba superar.
Até que aprenda a devolver à Vida
(que a todos antecede)
o sopro que da Vida recebeu.
E assim o faça através do Amor.
Até que aprenda a fazer da sua própria vida uma corrente de transmissão desse Amor para com a Vida
(que a todos sucede).

É que, preso numa ampulheta, o tempo de cada um vai se desintegrando em ínfimos grãos de areia e fazendo a passagem para um novo tempo.
Até que esses grãos de tempo, transformados em Luz, possam atravessar o vidro e ir iluminar caminhos de outrem.

Então, não haverá mais o que temer. Porque tua ampulheta terá se transformado em lanterna, a clarear a estrada atrás da caravana que segue adiante.