Alguns poetas latinos ensinam uma
etimologia muito original e rica da palavra “amor”. Essa palavra nasce da união
da letra “a” com função privativa ( como em “a-fasia” = “sem fala”) mais a
abreviação da palavra “morte” = “mor”. Assim, nesse sentido poético-pensante , “amor”
é “não morte”.
“Morte” não apenas no sentido
biológico, pois “ódio”, “ignorância”, “necropolítica”... são formas doentias de morte também.
Quando nutrimos de fato amor a algo
ou alguém , cuidamos, agimos e lutamos pela não morte do que amamos. Amar a
democracia , por exemplo, é agir pela não morte da democracia; amar a educação
é agir pela não morte da educação.
O amor assim compreendido não é algo
apenas individual ou subjetivo, mas uma
força que une as coletividades e as desperta para a prática política enquanto ação coletiva para não deixar morrer
a dignidade em nossas vidas.
Platão é o pai da visão romântica e idealizada
que vê o amor como a busca de algo que nos falta. Para os poetas latinos, ao
contrário, o amor não é falta, ele é potência já presente em nós agindo para nos proteger daqueles que negam a vida, a
despotencializam ou a querem morta.
Seguindo a lição dos poetas latinos,
Espinosa também concebe o amor como potência, e não como falta. Ao contrário do
que pensam Platão e os românticos, Espinosa ensina que o amor não é apenas
encontro de almas, ele também é a potência que une alma e corpo, mente e sensibilidade,
teoria e prática.
O amor não concerne apenas à alma e
corpo individuais, pois também há a alma e o corpo coletivos. Numa democracia,
a alma coletiva se potencializa educando-se nas
ideias que despertam nela a compreensão de que ela é, ao mesmo tempo, una e
múltipla, singular e plural.
À alma coletiva rica corresponde um
corpo social heterogêneo . A educação autêntica é prática para potencializar a alma
coletiva como expressão de um corpo social plural-democrático.
Os tiranos, ao contrário, estão
sempre querendo entristecer a alma coletiva inoculando nela a superstição e o
medo, para assim despotencializar o corpo coletivo reduzindo-o a um rebanho
homogêneo , dócil.
E uma das formas que o tirano tem de
manter o rebanho coeso é fomentar nele o ódio a tudo aquilo que é diferente,
potente, alegre, criador. Medo, ignorância e ódio são as armas do tirano, ontem e hoje.
Segundo Espinosa, não é odiando a
doença que se conquista a saúde: é o amor à saúde que nos faz vencer a doença. Não
é o ódio ao tirano que nos dá força para vencê-lo: é o amor à democracia que
nos potencializa ante toda forma de tirania. Vingança é ódio, porém indignação ativa
é amor à justiça.
Agenciado a Espinosa, Manoel de Barros nos ensina esta
lição que é também clínica, ética, pedagógica , política , micro e macrorrevolucionária: “Se a
gente não der o amor, ele apodrece dentro de nós”.
( este livro é apenas uma sugestão)
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