sábado, 10 de outubro de 2020

os dois pães

 

“Companhia” vem de “companis”. “Panis” está na raiz da palavra “panificadora”, pois “panis” é, em latim, “pão”. Assim, “companheiro” é : “aquele com quem dividimos o pão”. São dois os pães : o literal e o poético, o feito de farinha e fermento e o composto de ideias e sonhos . O pão literal é o alimento de que precisa o corpo. Quando esse pão falta, vem a fome. A elitista Maria Antonieta , zombando da fome do povo, no passado disse: “Não têm pão? Que comam brioches!” . As “Marias Antonietas” de hoje , não menos elitistas, agora dizem: “Não têm arroz? Que comam capeletti!”. E ainda tentam comprar os incautos com trezentos reais que mal pagam migalhas de pão...

As resistências às tiranias sempre nascem do aprender a dividir o segundo pão : o que deve alimentar o que em nós é capaz de se indignar , se unir e engendrar ação . Criar um devir-companheiro é partilhar os dois pães: o que nutre o corpo e o que deve alimentar o que em nós tem fome de arte, de poesia, de liberdade, de justiça, de cultura, de educação... para que nossa dignidade não morra de fome. O primeiro pão tem preço e é comprado com dinheiro, mas o segundo pão não tem preço e só se pode conquistar com luta.

 

( imagem: o filme “Pão e rosas” , unindo crítica social e poesia, fala da urgente luta por esses dois pães)







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