“Inventar” se aplica
a coisas. Celular ,
automóvel, relógio ... existem
porque foram inventados. Já o “criar” é uma arte, no sentido bem amplo da
palavra. Não só um poema ou uma música
são criados, pois também dizemos: “criei um filho”, e não
“inventei um filho”; ou “criei um laço de amizade”, e não “inventei um laço de
amizade”; ou “criei novas possibilidades para minha vida”, e não “inventei
novas possibilidades para minha vida”. Assim falamos porque há uma percepção em
nós, ainda que inconsciente, de que existir é criar e criar-se, ao passo que é
coisa de rebanho viver apenas
mecanicamente, mesmo que cercado de máquinas tecnológicas . Um celular , por exemplo, apesar de fruto da invenção tida por avançada e moderna, pode ser usado a serviço de uma mentalidade
retrógrada ( como vemos nos protofascismos on line). Isto porque a
inventividade produz apenas coisas; e as coisas , por não possuírem vida, podem
virar instrumento de propagação e poder de
mentalidades mórbidas . Já a
criatividade produz ideias, e estas são
a vida e a saúde de uma sociedade que cria a si própria , aberta e
pluralmente. O mero inventar nos faz digitadores, telespectadores,
consumidores, enfim, apertadores de botão e teclas de coisas ; já a
criatividade nos impele a sermos
pintores, poetas, escultores, enfim, atores de nossa própria vida, pessoal e coletiva. É sobretudo essa
potência criativa imanente , pluri e multicolorida, o alvo deste
Estado-Pastor que quer
reduzir tudo ao preto e branco, azul ou
rosa . Em todo totalitarismo , não importa se político , comportamental ou
acadêmico, são sempre os criativos os que sofrerão as maiores consequências. E
são sempre deles, e neles, que nascem e perseveram as resistências.
“O homem somente encontra nas coisas aquilo
que ele mesmo nelas pôs. O ato de encontrar se denomina ciência, o ato de pôr
se chama arte.” (Nietzsche)
"O núcleo da criação", Frida Kahlo |
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