quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

abaixo toda forma de ditadura


Se em uma prova de ciências alguém afirma que “a terra é plana” e leva zero , ele não pode contestar a nota alegando que o professor está cerceando o seu direito à “liberdade de ter uma opinião”. Afirmar que “a terra é plana” não é uma opinião, e sim uma ignorância em relação ao conhecimento adequado acerca da terra. Se alguém fala ou escreve algo que discrimina uma pessoa ou uma minoria e é processado por isso, esse alguém não pode dizer que o processo está limitando o seu direito à “liberdade de ter uma opinião”, pois emitir um preconceito ou injúria não é ter uma opinião, e sim mostrar-se um criminoso. O direito a ter e proferir livre opinião é a base ética, política e jurídica da democracia. Mas há um aspecto desse direito que nem sempre é esclarecido. E esclarecer é prática pedagógica que desfaz obscurantismos ( “es-clarecer” vem de “es-claro”: “tornar mais claro”, ensina Espinosa ). O direito à liberdade de opinião é universal quanto à forma e não quanto ao conteúdo, pois há conteúdos que alguém diz ou escreve que não podem ser universalizáveis, já que se revelam erros, preconceitos, intolerâncias ou mesmo crime.
O fascismo é uma ignorância que surge no início como opinião, travestindo-se como direito à liberdade de opinião. O perigo é quando os assim ignorantes tomam o poder do Estado, sobretudo se for pelo voto. Pois o voto que os elegeu apenas na forma é voto, já que seu conteúdo é o ódio à democracia e, mais profundamente, ódio ao pensar , ódio às ideias, ódio à diferença. O fascismo se vale dos mecanismos formais da democracia , como a eleição e o voto, para logo em seguida mostrar o que ele é em termos de conteúdo:  ódio às instituições democráticas. O fascismo teme as ideias porque é delas que vem a força que lhe resiste e denuncia . E a maneira que o fascismo tem de se defender não é argumentando pautado em ideias, mas empregando a única força que ele conhece: a força da ameaça, do amordaçamento, enfim, a força da polícia ( incluindo as polícias do pensamento).

( o país ainda não vive uma ditadura do ponto de vista da forma, porém o conteúdo autoritário  já está instalado e só esperando o momento de vestir também a forma, se não resistirmos coletivamente a isso)



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